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domingo, 15 de junho de 2014

BOLETIM INFORMATIVO FÓRUM DE ARTE PÚBLICA DATA: 26 DE MAIO DE 2014

Foi um encontro breve, onde pontos foram levantados e abordados de maneia sucinta, já que tínhamos começado com atraso o fórum devido á reunião anterior que, de certa maneira, tem a ver com o fórum, já que em setembro, no Hotel da Loucura, no Engenho de Dentro, a cidade do Rio de Janeiro estará recebendo a Rede Brasileira de Teatro de Rua em seu XV Encontro no evento Ocupa Nise, junto com o 4° Congresso da UPAC – Universidade Popular de Arte e Ciência.

Carta Documento:
Amir abriu o fórum lendo um rascunho da carta documento que pretende entregar ao Prefeito Eduardo Paes na reunião marcada para o dia 13 de Junho, falando sobre os três meses do projeto Arte Pública, nossas vivências e a necessidade que experimentamos para que pudéssemos elaborar sugestões para uma autêntica política pública para as artes públicas:
“SUBSÍDIOS PARA UMA POLÍTICA PÚBLICA PARA AS ARTES PÚBLICAS




– INTRODUÇÃO –



Por reconhecer a existência de uma outra possibilidade artística na cidade, e por haver comprovado esta existência concretamente durante os 3 (três) meses nos quais realizamos nossos encontros públicos, em busca de subsídios para construção de um pensamento para Políticas Públicas para as Artes Públicas é que nos sentimos agora mais que autorizados, nos sentimos capacitados para realizar a tarefa que nos tínhamos proposto; A partir de um projeto inicial, apresentar à prefeitura no melhor tempo possível, subsídios importantes obtidos pela militância de quatro grupos de artistas públicos desta cidade em 6 (seis) praças centrais durante 3 (três) meses, com mais de 600 (seiscentas) apresentações e 750(setecentos e cinqüenta) grupos ou artistas públicos ou de rua cadastrados. Uma cifra surpreendente, de uma diversidade inimaginável; e que seria ainda maior, e será, se e quando o evento  puder ser levado a outras regiões da área metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. A possibilidade da emergência de uma livre manifestação artística para todo o aparato e o convívio urbanos, se confirmou além de nossas expectativas.

         E também foram além, as questões a respeito de estabelecer políticas públicas para o fortalecimento, proteção e desenvolvimento destas atividades, que muitas vezes não vêem á tona, exatamente por falta de, apóio, estímulo, proteção ou reconhecimento!!

         O universo manifestado se mostrou mais diverso e complexo do que imaginávamos.  À medida que as apresentações revelam sua diversidade e complexidade, as questões em relação a elas também se multiplicam.

 O que é público? O que é privado? O que é arte pública? E artista público?

É o mesmo que arte privada, ou artista privado?

Espaço público é espaço privado? 

O alcance do espetáculo público, seus limites.  O futuro das artes públicas.  Linguagens.  Linguagem pública?  Linguagem privada? Perspectivas históricas, vaticínios, profecias e utopias. 


Como responder a tantas questões, muitas delas nunca dantes formuladas em nenhuma parte deste mundo, e a maior parte delas ainda sem respostas, pois só agora começam a ser formuladas como resposta a elas mesmas,  ao momento histórico que vivemos no Rio, no Brasil ou no Planeta.  Num mundo de privatizações exacerbadas qual será a possibilidade dialética de confrontá-lo com outra proposta, que seja oposta a ele e seus interesses.  Que estrelas poderão nascer do entrechoque dessas duas tendências tão fortes e arraigadas à natureza humana, e tantas vezes em desequilíbrio.  Ou tudo coletivo, público. Ou tudo individual. Privado. Privatizado. Choque necessário e inevitável.  É bom lembrar que estamos falando de interesses e não do poder público, que muitas vezes representa apenas os interesses privados.

Todas as questões e tantas questões que não temos, e nem teremos, todas as respostas, mas sua variedade, diversidade e complexidade justificam, por sua importância a criação de políticas públicas para estes artes que estamos chamando de Artes Públicas.

Elas existem, são fortes, poderosas, contemporâneas e se estimuladas poderão surpreender e transformar os nossos paradigmas a respeito da arte, cultura, produto cultural, mercado, vida cultural. Valerá à pena investir, pois é um veio rico e misterioso, ainda inexplorado, esperando pacientemente que o ser humano se volte para esse lado, desobstruindo mais um canal importante de nossos afetos contribuindo para a educação dos homens, criando cidadãos capazes de sobreviver à débâcle que parece inevitável, e que saberão renascer das cinzas do Apocalipse com um novo sentido de convívio humano. Precisamos desde já estamos preparados para isso.  “Ave Cᴂsar, morituri te salutamus”.  Quem sobreviver, verá! 

Seguem as sugestões.


Amir Haddad”


Amir termina a leitura e pergunta o que achamos da carta. Todos os presentes gostaram do conteúdo escrito. Amir falou que ainda não estava terminada, que precisava de nova revisão e que ainda faltava acrescentar as sugestões e observações levantadas pelas curadorias em três meses de intenso trabalho nas seis praças onde o projeto foi executado. Também foi avaliado que o dia da reunião não poderia ser o melhor: em uma sexta feira 13, dia de Santo Antônio. Também será entregue em mãos o relatório do Projeto com os relatos, boletins e relatórios das curadorias sobre os três meses de atividades nas praças onde tivemos 600 apresentações de artistas e grupos públicos e 760 cadastrados no evento. Entregaremos também uma cópia para o Secretário de Cultura do município para que fique ciente do que conseguimos realizar e o que podemos fazer mais ainda.

Carlos Gomes:
Também foi informado do encontro marcado no Teatro Carlos Gomes pelo Secretário de Cultura Sergi Sá Leitão, onde a Secretária Municipal de Cultura fez um relato da prestação de contas das suas realizações, comunicando sobre:
- Prestação de contas do orçamento do ano anterior;
- Sobre o orçamento deste ano;
- Os projetos contemplados pelo Programa Cultura Viva;
- Os projetos agraciados como pontos de cultura (Programa Federal abarcado pelo município),  
- Sobre o Edital do ISS;
- Sobre os programas dos Pontos de Cultura que abrirão;
- Sobre os projetos realizados que teriam continuidade sem a necessidade de passar por editais, subvencionados com verba direta.
Foi comentado que este encontro no Carlos Gomes não teve quase nenhuma divulgação, convites foram enviados online um dia antes e que estiveram presentes mais produtores do que artistas. Herculano, do Tá Na Rua, que foi no encontro, informou que o Secretário usou termos, frases e pensamentos desenvolvidos e proferidos pelo Amir nos encontros de Arte pública.
Brizola:
Falamos também sobre a Revista Caros Amigos que neste mês publicou um longo e ótimo artigo sobre Leonel de Moura Brizola, desenhando sua trajetória e de como a política neoliberal fez de tudo para apagar o seu legado histórico e de como contribui para a sua morte. Os candidatos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro comentam e tem descrito em suas planilhas de campanha da necessidade da Escola ser em tempo integral e com número previsto de alunos para cada turma, o que não é nada novo, pois está era a política pública educacional aplicada nos Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs – construídos pelo então Governador Brizola e que foram praticamente desestabilizados e abandonados pelo Sr. Moreira Franco quando assumiu o comendo do Estado. Como dito “ficamos privados da memória por causa da política neoliberal (Amir Haddad)” e agora estas memórias estão vindo á tona.
Os neoliberais querem tudo para si, não tem nenhuma responsabilidade social, devoram o que podem. Durante o governo FHC queriam privatizar a Petrobrás, não conseguiram. Queriam privatizar o Banco do Brasil e também não conseguiram. A Petrobrás foi sucateada para que fosse vendida e agora que ela voltou a dar lucro e agora o que estão fazendo atualmente? Provocam uma nova desestabilização com intuitos eleitorais. Criam o caos. Nossa economia cresceu mais do que a Alemanha, mas dizem que o Brasil está um caos. A direita deste país comeu tudo o que podia e ainda quer mais. Não a toa, memórias iminentes como a de Brizola voltam a serem disseminadas, pois tem seu valor e contribuição histórica.

Continuidade:
Perguntamos o que teria sido o futuro atual se as obras educacionais dos Cieps tivessem tido sua continuidade. Segundo avaliamos, teríamos tido avanço, mas não era isso que interessava ao modelo político da época. Vimos como é importante a continuidade de um bom projeto assim como é bom saber que podemos dar continuidade ao Projeto Arte Pública e da elaboração de Políticas Públicas para as Artes Públicas. Mas para isso verificamos que temos que nos perguntar: qual continuidade? Avançamos no conceito, na teoria e tivéssemos a prática. Agora temos que rever e ver como mantemos essa continuidade. “Não pode ser o mesmo e não devemos permitir que seja o mesmo... Nós não somos os mesmos depois que realizamos o projeto... (Amir Haddad)” Por isso a necessidade de cada curadoria contribuir e enviar suas sugestões. O relatório e a carta que serão entregues ao Prefeito é só o inicio do que começamos e como diz a canção, o “nosso salmo”:
“Não sou eu quem me navega,
Quem me navega é o Mar...”
Como sempre, termino informando que está não é uma ata, mas um boletim escrito a partir das anotações feitas durante os encontros do Fórum e que estão abertas para correções, observações e acréscimos.


Herculano Dias

terça-feira, 3 de junho de 2014

MANIFESTO PERIFÉRICO: pelaleidefomentoaperiferia



MANIFESTO PERIFÉRICO

PELA LEI DE FOMENTO À PERIFERIA

SALVE PERIFERIAS!

Pra entender os escritos e as vozes do lado de cá, antes, é preciso entender o que vemos como PERIFERIA.

Compreendemos PERIFERIA como espaço urbano geograficamente identificável, abrigo das classes trabalhadoras brasileiras, da maioria da população negra, indígenas urbanos e imigrantes e cujos traços culturais são entoados pela heterogeneidade resultante do encontro (nem sempre pacífico) desta convivência multicultural atravessada pela desigualdade social. Periferia, não por acaso, substantivo feminino no qual se inscreve a história corrente de inúmeras mulheres. Museu sem teto ou paredes, bolsões de expressões ancestrais, tradicionais e experimentações inovadoras, cuja geografia é território, marca identitária e também espaço de exclusão econômica, com excesso de polícia e ausência de políticas públicas que procurem agir na resolução das consequências de um processo histórico de brutalidades sociais, desigualdades e injusta distribuição de riquezas.

O termo PERIFERIA convocado neste manifesto representa um ato político. Assumi-la como marca identitária significa evidenciar as disparidades sociais, econômicas, geográficas e culturais historicamente impostas, assim como, neste contexto, considerar a desproporção de verbas públicas destinadas à produção cultural das quebradas.

Reconhecer a capacidade de sua população em mediar as contradições por meio da produção cultural e da elaboração cotidiana de mecanismos que garantam a sobrevivência coletiva, é compreender este território periférico como lugar de resistência política. Ainda que as periferias tenham características específicas entre si, a unidade está aí: relacionam-se com a questão urbana em posição de desvantagem política, visto que historicamente os olhos das políticas públicas buscaram privilegiar investimentos nas áreas centrais da cidade, estimulando, mesmo que não intencionalmente, novas lógicas de convivência, sociabilidade e manifestações culturais nos territórios periféricos.

 O que buscamos é a reparação histórica, é inverter a lógica do mercado. Fundamentados no ponto de vista de quem vive e produz cultura neste lugar, a periferia, e por entender a tirania do processo de mercantilização que a tudo padroniza e homogeneíza; que busca transformar em mercadoria toda a produção humana e que, portanto, exerce forte pressão às manifestações culturais nas quebradas para que se transformem em produtos à venda.

Reivindicamos do Estado sua contraparte, assegurando políticas públicas que viabilizem nossas práticas artísticas e culturais não baseadas no lucro e na exploração; que existam mecanismos de fomento onde a gratuidade seja garantida, a auto-sustentabilidade econômica não seja uma meta, a subjetividade das periferias não seja transformada em mercadoria e que as nossas produções não estejam reféns de um gosto universalizado, tampouco nossas particularidades simbólicas sejam catalogadas como moeda de troca.

O governo do Estado, há cerca de duas décadas, é pautado por políticas neoliberais, sem praticamente qualquer política pública voltada para grupos culturais ligados aos movimentos sociais. Na cidade de São Paulo, embora exista políticas mais arejadas e com maior diálogo com os movimentos, ainda há muito por fazer e avançar. Nossa contribuição parte da premissa de que a discussão sobre financiamento direto, garantido em lei, e descentralização de verbas é necessária e se faz urgente.

Defendemos que os estados e municípios parem de despejar milhões de reais, fruto de arrecadações dos cidadãos, para o pagamento de JUROS das dívidas públicas – que representa hoje 13% do orçamento do município de São Paulo[1], em detrimento do investimento de apenas 0,7% de seu orçamento na cultura[2] (situação repetida nas esferas estaduais e também federal). Esta política de irresponsabilidade social engessa todos os governos, independentemente da coloração partidária e desconsidera a maior parte da população, a população periférica, produtora das riquezas com a força de seu trabalho e, ao mesmo tempo, distanciada do usufruto desta produção.

FOMENTO PERIFERIA

Enquanto sujeitos periféricos residentes e atuantes às margens metrópole, propomos e defendemos a criação de uma LEI de FOMENTO à PERIFERIA, capaz de estruturar econômica e poeticamente as coletividades das quebradas.

O QUE É o FOMENTO PERIFERIA? É uma Política pública de investimento direto, estruturada em lei e com dotação orçamentária própria, cuja iniciativa potencialize a capacidade criativa e a articulação dos coletivos artísticos periféricos, levando em conta a sua pluralidade materializada em poéticas diversas.

A QUE(M) SE DESTINA? Direcionada à produção cultural periférica, cujo protagonismo é o de coletivos culturais com atividades continuadas.

O QUE APOIA? Fomentará pesquisas, criação, formação, difusão e manutenção das atividades artístico-culturais, assim como manutenção dos espaços públicos ociosos por estes coletivos, ocupados e geridos com garantia de autonomia política e administrativa.

NO QUE DIFERE DE OUTRAS LEIS E EDITAIS? Diferente de outras iniciativas também importantes como o VAI II e Pontos de Cultura, por contemplar não somente sedes "pontos específicos" e por dispor de maior aporte econômico às parcelas contempladas. O Fomento Periferia cobre uma lacuna que inviabiliza os saltos poéticos a que estamos inscritos.

OU SEJA... Uma POLÍTICA PÚBLICA proposta e produzida por agentes culturais periféricos de modo a distanciar-se da lógica mercantilista, do caráter eventual das ações culturais e da competitividade desigual dos editais, considerando a cultura um direito humano, garantindo a descentralização dos recursos e uma produção cultural autônoma, singular e continuada, orientada pelas relações sociais estabelecidas por/entre agentes artístico-culturais e suas comunidades.

É nóis por nóis!

FÓRUM DE CULTURA DA ZONA LESTE #pelaleidefomentoaperiferia


[2] Estudo realizado pelo Fórum de Cultura da Zona Leste baseado em dados oficiais publicados pela SEMPLA. Acesse o conteúdo completo em http://passapalavra.info/2013/11/87836.

1.       Agenda/Cronograma
·         30/05/2014 – Publicação oficial da Carta de princípios (Manifesto Periférico).  Após a publicação, esta carta deve circular pelos 4 cantos da cidade, em eventos artísticos e políticos (frente parlamentar, câmara de vereadores, reuniões prefeitura, subprefeituras, etc.).
·         09/06/2014 – Reunião da Comissão de Fomento à Periferia para redação da Lei.
·         23/06/2014 – 3º Encontrão do FCZL – Sugerido de ser no ALMA.
·         Julho/2014 – intensificação de estudos e redação da Lei.
·         Agosto/2014 – Lançamento da Minuta da Lei de Fomento à Periferia para considerações. Intensificação de estudos e redação da Lei.
·         Setembro/2014 – Seminário Políticas Públicas: Pela Lei de Fomento à Periferia. Apresentação, debates e redação da Lei. 2 dias (intensivão). Ver local que consiga agregar perifas da Zonas Leste, Sul, Norte, Noroeste. (ver com Ruivo sugestões?)
·         Outubro/2014 – Lançamento da Lei. Articulações. Periferia vai cobrar a Aprovação da Lei de Fomento à Periferia!

domingo, 1 de junho de 2014

BOLETIM INFORMATIVO FÓRUM DE ARTE PÚBLICA DATA: 19 DE MAIO DE 2014



Neste encontro Amir começou falando sobre compromisso. Ele compartilha que não consegue não vir nas segundas feiras no fórum. Ele organiza a agenda de forma que possa estar livre, pois "Nós entramos num caminho insuspeito. A gente imaginava fazer o teatrinho, foi avançando e questões aparecendo." Claro que não é para ser uma regra, não dá vir em todas, mas a questão que Amir levantou foi se todos partilham do mesmo sentimento de compromisso como ele. São mais de dois anos se encontrando e agora tendo concluído uma etapa do nosso processo que foi o Projeto de Arte Pública. Tivemos o grato resultado de 600 apresentações e 760 artistas de rua cadastrados. Por isso ele faz a pergunta, pois "posso estar sendo injusto, parece que desistem com muita facilidade. Eu tenho um comprometimento até comigo mesmo... Sinto falta, tem discussões aqui bem interessantes. Ainda tem jabuticaba para comer da minha bacia." Ficamos um tempo longo nos encontrando, agora acabou uma fase. Temos uma questão agora que é a continuidade. Nossa re-organização na caminhada. Ligia então fala que "As segundas estão ficando difíceis para mim. A prioridade é aqui sim. A gente sabe o que galgou com isso. Foram três meses de muito trabalho. O pensamento é como tocar a nau daqui para frente."

Analisamos que antes, tudo que se falava de arte pública eram os monumentos ou grafite. Viemos com um discurso, um conceito. Fomos ganhando espaço, foi avançando e com isso trouxe responsabilidades. Estamos em um momento importante em que temos que apresentar sugestões políticas para as Artes Públicas. Amir fala que está "ansioso com a reunião com o Prefeito", porque "tudo que for feito, tem que ser feito por nós... (Amir)" Se formos deixar nas mãos do poder público, da Secretária de Cultura, eles vão descaracterizar tudo, eles não conhecem o que fazemos nem o que fomos. Os padrões que seguem é a do mercado, do edital, tudo o que não queremos.

Amir: "- Estou com vontade de sugerir ao Prefeito criar o Setor da Arte Pública dentro da Secretária de Cultura, para catalogar e atender o artista de rua, com a nossa gerência. Esse setor não existe. E não são eles que vão cuidar dos assuntos referentes á Arte Pública. Ninguém da Secretária tem vontade. Nós tiramos o edital e formulamos um projeto. Se não tiver políticas, tem o edital."

Amir fala que por isso que as quatro curadorias é que devem apresentar proposta de políticas públicas, não podem delegar nem ir para a mão de ninguém. Por isso as quatro curadorias devem estar juntas, porque "temos e somos história. (Amir)".

Maria Helena, Tá Na Rua: "- Esse momento muito é complicado e delicado... Tem muita coisa para acertar. Tem uma série de coisas para falar com o Prefeito. Foram 760 artistas cadastrados, é uma realidade. Temos uma responsabilidade... O político não quer saber e a gente está metendo as caras nesse negócio que nem sabemos aonde vai dar, mas que está acontecendo."

Ligia: "- Precisamos dar uma estimulada. Não queremos edital, precisamos de fomento. É uma reflexão para todas as curadorias, para todos nós na verdade... Saber a diferença de comprometimento e de compromisso. O nível de comprometimento meu, tem que estar igual ao sei. Temos que ter coletividade. Entendo o que está sendo dito aqui... É difícil pensar fora de si mesmo, mas é um aprendizado que temos que exercitar."

Concordamos que é preciso ajustar, amadurecer o pensamento. Cada vez que entendemos isso, avançamos na história e no nosso nível de reflexão, o que queremos ser, o que queremos fazer. Ninguém imaginava que pudéssemos ser competente. Por isso que pensamos em entregar também para o Secretário Sergio Sá leitão o relatório do Projeto do I Festival Carioca de Arte pública, o mesmo que será entregue ao Prefeito, como estratégia, para ele saber o que foi fizemos. É uma vitória. Além do mais, no encontro marcado pela Secretária Municipal de Cultura no Teatro Carlos Gomes, onde o secretário diante de produtores culturais e poucos artistas, apresentou contas do que foi realizado pelo otrgão público, apresentou resultados de projetos e editais e falou dos que estão abertos, como o do ISS, dos editais dos pontos de cultura e também sobre a continuidade de projetos com subsídios diretos, como a Orquestra Filarmônica do Rio de Janeiro . Vale lembrar que o projeto Arte Pública veio com subsídios do gabinete do Prefeito, devido ao nosso movimento. Não foi dado, foi conquistado. "Deu para ouvir claramente o secretário falar, não com as mesmas palavras, mas todos os termos e pensamentos do Amir... – Herculano". Brincamos que isso pode ser bom, sinal de que o secretário pode até não admitir, mas escuta "O que o Amir fala."

Concluímos que não podemos ser ingênuos e que precisamos estar atento ao momento que vivemos. É turbulento, confuso e somente a Arte Pública se identifica como uma proposta para a cidade. Não somos protesto. Somos as forças desarmadas que atuam nos espaços abertos em prol das nossas idéias e dos nossos melhores sentimentos.
Com sempre termino, este é um boletim informativo, não é relatório e nem ata. Escrevo a partir das minhas anotações e está aberto para correções, acréscimos e opiniões.

Ass:
Herculano Dias

BOLETIM INFORMATIVO FÓRUM DE ARTE PÚBLICA DATA: 12 DE MAIO DE 2014


Amir abre o encontro e fala estar feliz em ver outros rostos que não sejam os mesmos que freqüentam e também feliz por ver aqueles que continuam nos encontros das segundas, mantendo o ritmo regular do Fórum em um momento importante em que não estamos envolvidos em nenhum evento e tendo pela frente uma reunião com o Prefeito Eduardo Paes para falar sobre o Projeto, que teve sua conclusão e entregar em mãos o relatório, fruto de três meses de intensa atividade do Arte Pública, Uma Política em Construção, pois como foi colocado por Amir: - "Temos que discutir a nossa continuidade, tem bastante coisa para fazer..."

Foi entregue uma edição simbólica ao Vereador Reimont na Cinelândia durante a Apoteose do I Festival Carioca de Arte Pública. Na ultima segunda, dia 05, cada curadoria ficou de fazer um levantamento dos subsídios, das necessidades que encontramos para o artista de rua realizar seu trabalho: Amir – "Temos que encaminhar uma proposta, um esboço de elaboração de políticas públicas para as Artes Públicas... Garantir políticas públicas e proporcionar locomoção dos grupos dentro da cidade e fora dela. Descobrir quais políticas públicas queremos e avançar no conceito Arte Pública."

 O encontro desta segunda foi marcada pela discussão sobre o que é um artista público, pois segundo alguns pontos levantados, até mesmo pela experiência e vivência no projeto realizado, só por está fazendo alguma atividade artística na rua, não quer dizer que seja um artista público e nem que esteja realizando uma Arte Pública. Muitos pontos foram levantados sobre essa questão e a relação do artista com o público que o assiste no espaço aberto, ainda mais que uma geração está indo direto para a rua fazer arte. Quando o artista que se apresenta na rua está aberto e em contato com a rua e se apresenta respeitando o público sem o agredir? Será que está tendo mesmo uma relação horizontal com a população? As indagações levaram a reflexões levantadas por Amir Haddad que nos levou a pensar ainda mais sobre a nossa prática. Amir fez uma sabatina que a cada apontamento se tornou uma tese sobre o artista público.

Amir : - Podemos nos perguntar: o que é um artista público? Será que todo artista de rua é público? A gente tem visto que não é assim. Você é um artista e quer se apresentar. Mas o que é um artista de rua? O que é um artista público? É só uma questão de geografia ou de responsabilidade e contato com a cidade? Ou é aquele que pensa o que está falando, sem contato com nada? Eu vou só por causa de mim? Quais os sentimentos que me levam para a rua? Basta estar na rua? O artista público é simplesmente aquele que se apresenta nos espaços públicos? Quais as responsabilidades que a gente exerce em contato direto com a população sem catraca, sem bilheteria e sem censura? Cada um faz o seu, enfrenta os entraves, as dificuldades... Quando o artista vai para a rua cria um código. O Geruza tem um código, tem uma maneira, tem uma sabedoria de como fazer isso, esse contato com a população. Tem a experiência. Geruza escolheu a rua. Nós escolhemos a rua. Não basta só o conceito de artista público, precisamos modificar a nossa consciência, nos aprofundar mais. Tivemos experiências contraditórias. Não dar para ir para a rua levando o espaço interno das salas... O teatro interno da década de 70 por vezes era agressivo na sua tentativa em modificar, buscar outros espaços, criar o alternativo... Tinha uma peça... O diretor tinha ódio por ter que trabalhar para a classe média e os atores da peça xingavam a platéia... O espetáculo era afrontar o público... O sentimento acaba virando o mesmo do teatro de Shopping...  Artistas que não colocam o espectador na sua lista de preocupações, devido a sua subjetividade, seu ego, coisa do artista pequeno burguês e que norteia os artistas das salas fechadas... Começam a ter problemas desse tipo... Essas associações... Vão para a rua com esse sentimento... Para a sociedade burguesa não interessa o que fazemos, descompromissada politicamente, com seu egocêntrismo, sua subjetividade, sua competividade... Na medicina é a mesma coisa: Formar o cidadão para a competição, sem nenhuma responsabilidade com a sociedade... A regra que predomina é farinha pouca, meu pirão primeiro... Para a lógica burguesa, sem competição não há desenvolvimento... Ter o melhor produto... Não basta ir para a rua fazer arte... Tem que olhar a rua... Tem que entender o que é esse artista público... Nenhum de nós foi preparado. Fizemos a nossa escolha... Historicamente o que mudou muito foram 300 anos de contato direto com a burguesia. O teatro passou a ser feito em um lugar só, fechado, e imediatamente se tornou homogêneo... Desde 1800 até agora nós representamos para esse público... Hoje no Brasil vai se percebendo a diferença... A platéia não é um corpo passivo, está trabalhando com você... A comédia Dell'rte durou 250 anos... Molieré bebeu nessa fonte... Fazia seu teatro tanto nos palácios como nas ruas, tanto que ele não pertencia a Academia de Letras, porque era histriônico, grosseiro... Carlos Goldoni leva o teatro para o espaço fechado... Com isso foi mudando a linguagem, as máscaras caíram. Os atores da rua foram coletados para o palco... Os atores passam a não falar em versos, passam a falar em prosa... A prosa elimina a idéia, a poesia é uma forma popular, do teatro popular que Lorca fazia... A transfiguração desaparece... Você tem que gesticular igual, ter boa representação. Não pode olhar para a platéia, tem que falar a parte, olhar para o lado, nasce a quarta parede. A sala aparece... O pensamento pragmático da burguesia, que lida com o dinheiro e o povo com o trabalho, que sai para pegar a produção e vende na cidade (O atravessador que coloca o seu preço com margem de substancial de lucro) vem para o Teatro... Quem pode paga... Esse teatro tem 300 anos ou mais, é muito tempo... O teatro espanhol teve 190 anos, como o Teatro Elisabetano teve o seu tempo... 300 anos é muito tempo para este teatro e para qualquer outro teatro ou expressão artística... O contato e a relação que criamos com o público é importante... Da mesma maneira que modificamos, somos modificados por essa platéia... Modifica na relação de espetáculo e de artista. Tem essa troca... Para o teatro burguês não... O teatro tem que ser de uma maneira, como se os valores fossem eternos... Há uma enchente de peças bem feitas, onde tem a questão da bilheteria... Meus atores do Tá Na Rua sofrem muito com isso, por não serem esses atores do mercado. No teatro que fazemos não tem dramaturgia, não tem estatística, não tem ética. O que é ético é bonito, o que é substantivo, é coisa legal...  Quais os avanços sem estar preso a uma estética? Eu fui com o Alessandro assistir uma peça: "Doze Homens e Uma Sentença"... É uma peça onde um rapaz latino é acusado de um assassinato e tem o júri formado por esses doze homens... Onze deles estão prontos para condenar o rapaz quando um levanta e fala: "Não acho que é inocente, mas não tenho certeza se é culpado..." Ai a trama se desenrola... Eu quero dizer que é bem feito. Conversando com o Alessandro ele fala: "- Rapaz... Me fez pensar. Esse teatro é tudo que não fazemos."... E é isso mesmo. Nós não fazemos esse teatro bem feito... Com dramaturgia para o entretenimento... O teatro está morto, viva o teatro... O Brecht é a forma de teatro que chega perto do que a gente faz hoje, a narração épica... Na primeira revolução socialista, se fazia teatro nas ruas, nas boutiques, era o teatro de Maiakoski, de Meyerhold até que vem o neoliberalismo stanilista e acaba com tudo... Passa a valer o que é oficial do Estado, fica o realismo socialista... Matou maiakoski... Matou Meyerhold... O realismo é base do teatro da burguesia... Herdamos isso... Saímos do palco... Esse teatro se encontra agonizante, terminal... Dizem que é eterno, que na ideologia de cada grupo é eterno, não vai mudar... A história movimenta... Quando a União soviética caiu, os pensadores diziam "a história acabou, não tem mais história"... A história continua, a história modifica, modifica a platéia e a platéia modifica a gente, ficamos de outra forma, temos outra forma de relacionamento. Delicias e agruras da rua... O que é um artista de rua? Qual a diferença entre o comediante e o artista de rua? Desde a idade média os comediantes faziam jograis, músicas. Não tinha dialogo. Não falavam: "Eu vou fazer a mocinha"... Tinham uma linguagem. Nasceram na rua e desenvolveram o teatro. Já existiam... Se fecham depois no palco, mas eles são antes... A comédia Dell'rte do Geruza tem a noção, coisa que as vezes e muitas vezes não temos. Nós saímos do palco para a rua... Fomos atrás da Liberdade Perdida... A diferença, só com o seu ego, já faz a gente pensar: Qual o nosso papel e o que levar para esse público? A vida cultural do planeta tem que mudar. Shakespeare escreveu para um mundo que estava acabando. Acabou tudo, veio outro teatro. Trabalhava com recursos de um mundo em modificação. Nós estamos vivendo uma passagem... Não sei o que vem por ai... Fico refletindo: O que é o artista público em relação com o mundo? Quem somos nós? Artistas públicos ou artistas que se apresentam? Eu sou livre? Qual é o respeito? O que se compartilha, o que se soma? Nosso pensamento é ancestral, contemporâneo. Somos a possibilidade das ruínas deste mundo em derrocada. Somos o passado, o presente e o futuro possível. Só se faz o futuro no presente."

Ao final, seu Noberto tocou sua clarineta, brindando a conclusão do fórum deste dia com as maravilhosas notas do "Carinhoso".
Com sempre termino, este é um boletim informativo, não é relatório e nem ata. Escrevo a partir das minhas anotações e está aberto para correções, acréscimos e opiniões. Mas vale ressaltar que este nem foi um boletim, mas uma reflexão e história sobre o artista público. Talvez tenha sido o mais difícil de escrever devido á riqueza do pensamento levantado.

Ass:
Herculano Dias

quarta-feira, 21 de maio de 2014

III FEIRA DE ARTE PÚBLICA - Zona Norte SP



:: FEIRA DE ARTE PÚBLICA ::

Data: 24/05/14 - Sábado

Local: CICAS - Centro Independente de Cultura Alternativa e Social
             Avenida do Poeta, 740 - Jardim Julieta (Vl Sabrina) ZNorte

14h - Cortejo com o Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo.

15h - Grupo Zanza, de Embu das Artes/SP com o espetáculo de danças populares
           "Manifestando".

16h - Grupo Mistura da Raça, de São Jose dos Campos/SP com apresentação de Jongo.

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

- Juliano Espinho do Grupo VIVARTE do Rio Branco/Acre e o indígena Kêa da etnia
Huni Kuin.

- Projeto Jardim Cultural da Julieta, a partir das 14h com exposições e plantio de mudas.

- Exposição de Artesanatos

REALIZAÇÃO

Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo

PARCERIA

CICAS - Centro Independente de Cultura Alternativa e Social

CONTATO:

Cristiane Accica – Produção: 11 9.9408-2349
                                                         nucleopavanelli.producao@gmail.com

Simone Brites Pavanelli – Produção: 11 9.6563-9248
                                                   nucleopavanelli98@gmail.com


quarta-feira, 14 de maio de 2014

A cidade e a arte de rua


Adailtom Alves Teixeira[1]

A maior parte da população mundial já vive em grandes centros urbanos. Em cada época histórica as cidades carregam os símbolos e a organização de seu momento. Para Henri Lefebvre em O direito à cidade (Centauro, 2010), estas são mediação de mediações. Dessa forma, suas mudanças ocorrem quando muda a sociedade em seu conjunto. Assim, para além de suas transformações físicas, as cidades nem sempre foram as mesmas, mas modificam suas funções de acordo com o período histórico.

A cidade, em sendo criada como espaço em que ocorrem as mediações, deveria ser associada a uma espécie de obra de arte. Ao assumirmos esse ponto de vista, na cidade deveria prevalecer o seu valor de uso, invés de um valor de troca. No entanto, em um capitalismo cada vez mais desenvolvido a própria cidade torna-se mercadoria e deve ser vendida e auferir grandes lucros aos capitalistas, que utilizam as esferas do estado para tanto. Já se sabe que a forma não está separada do conteúdo, logo, a cidade em uma economia de mercado, deve servir de mediação ao lucro.

Nesse momento a cidade de São Paulo (e outras espalhadas pelo Brasil) passa por uma disputa desigual no que diz respeito à regulamentação da arte de rua. O ano passado foi aprovada na Câmara dos Vereadores da cidade de São Paulo a Lei 15.776/13, que nada mais é do que a garantia de direitos constitucionais expressos no Artigo Quinto. Existe uma pressão econômica para que a cidade seja sitiada e prevaleça o mercado e não o direito à mesma. Via poder executivo foi criado um decreto de regulamentação da Lei, na qual a lógica era a de expurgar da cidade a ralé. Nesse caso, a arte de rua que, por definição não se enquadra enquanto mercadoria, já que ocupa um espaço público aberto, em tese, para todos, sem qualquer distinção. Os artistas se manifestaram, protestaram e estão negociando, mas daí não sairá nada perfeito, pois a lógica de nosso tempo histórico é determinante.

Qual o problema? Os artistas, por fugirem da lógica de mercado, já que não estão disponíveis como força de trabalho e nem suas produções/criações estão dispostos em um grande supermercado cultural, devem ser expurgados da sociedade. Os artistas de rua são donos de seus meios de produção e de suas obras, e isso incomoda, pois foge da lógica instituída. Essa é a grande disputa na regulamentação da Lei 15.776/13 na cidade de São Paulo. Luta, diga-se de passagem, bastante desigual.

Com Lefebvre também aprendemos que as cidades de hoje, inseridas nessa lógica de mercado, são apenas "um objeto de consumo cultural para os turistas e para o estetismo, ávidos de espetáculos e do pitoresco". Logo, tudo deve ser controlado, onde se vai, o que se vê. Mas os artistas de rua resistiram por milênios e continuarão a existir e resistir. E esperamos que se avance no processo para termos uma cidade com mais arte na rua, para serem fruídas por pessoas de todas as idades.


Escrito para o jornal Brasil de Fato.


[1] Graduado em História e Mestre em Artes.