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domingo, 17 de junho de 2012

Muita diversão no Teatro a Bordo


Adailtom Alves Teixeira[1]

Noite de sexta-feira, 15 de junho, periferia de Guarulhos (bairro Cidade Soberana). Como tantas outras periferias, seus moradores são destituídos de diversos acessos, sobretudo das atividades artísticas. Praça Estrela, ao lado de uma escola pública, foi este o local escolhido pelo grupo Teatro Aberto da cidade de Santos, para realizar a programação do Teatro a Bordo.

O grupo leva uma programação que engloba circo, contação de histórias, exibição de curtas metragens e uma montagem teatral. E é essa última que vamos abordar. A montagem A Bufunfa do Bufão, uma revisitação a Plauto, Molière e Ariano Suassuna, para discutir a avareza. São 80 minutos de muito riso e reflexão, pois é um tema importante e caro a todos. Pois, se poucos têm muitos recursos financeiros que poderiam servir a muitas pessoas ou, como os políticos, que poderiam tomar decisões em prol da maioria, quase sempre o fazem em benefício próprio e daqueles que o rodeiam (com raras exceções), mostram que a avareza é recorrente em nosso cotidiano. De certa forma, todos tem algum talento que pode ser colocado a disposição dos demais, de forma a enriquecer a humanidade, no entanto, nem sempre o faz. Assim, a avareza nos rodeia todo o tempo. No entanto, o grupo Teatro Aberto com o projeto Teatro a Bordo é generoso, sem ser piegas: permite o acesso de uma ampla camada da população a uma vasta programação cultural, como fez naquela noite e sempre recebendo a todos de forma agradável e carinhosa.

A equipe é grande, pois o projeto chega de caminhão, que se desdobra em um palco coberto (e, nos casos de chuva, a cobertura não protege apenas os atores, mas também o público – o que não foi necessário sexta, pois a noite estava com uma temperatura agradável), camarins, bancos para o público, além de toda aparelhagem técnica de som e luz.

A presença de um projeto como esse nas comunidades, lembra os antigos circos quando chegavam às pequenas cidades: modifica a paisagem, provoca alvoroço e curiosidade, movimenta a economia local – o vendedor de salgados da praça, por exemplo, já havia vendido toda a sua produção, antes mesmo do inicio do espetáculo.

O espetáculo que fecha a programação, A Bufunfa do Bufão, tem dramaturgia coletiva a partir dos textos de Plauto (Aululária), de Molière (O Avarento) e de Ariano Suassuna (O Santo e a Porca), a cuidadosa direção de Ednaldo Freire – que desde a década de 1970 pesquisa o cômico e o popular e faz excelente trabalho na Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes, colocando em cena um grupo coeso de cinco atores: Caio Martinez Pacheco, Douglas Zanovelli, Kadu Veríssimo, Raquel Rollo e Talita Berthi.

Apesar de um palco bastante alto, o que poderia distanciar as pessoas, o jogo com o público é direto, inserindo-os no espetáculo e tonando-os cúmplices de cada acontecimento, típico das boas comédias. A música, muito bem executada pelos próprios atores, cria não apenas os sons incidentais, mas tem função dramatúrgica, apresenta situações ou resolve questões cênicas, como a execução de pequeno número para que algum ator se prepare para a próxima cena, tornando, assim, o espetáculo mais épico.

As características épicas se destacam, sobretudo, no inicio do espetáculo, em que pequenas narrativas deixam as cenas mais dinâmicas. No entanto, do meio em diante, o espetáculo torna-se mais dialogado, perdendo um pouco o ritmo. Os diálogos se perdem, devido o uso de poucas nuanças no texto. Muito embora, o espetáculo é bastante recente, talvez advenha daí essa dificuldade.

Quanto ao público, a possibilidade de presenciar um espetáculo teatral quase no quintal de suas casas, fez com que ficassem bastante eufóricos, muito mais do que diante da exibição dos curtas metragens, apresentados antes do teatro: era um corre-corre daqui e dali para garantir o melhor lugar, chamar a mãe ou o pai que viria só para assistir o espetáculo A Bufunfa do Bufão. O que prova que em época de tanta imagem, nada melhor do que o bom e velho teatro, de pessoas dialogando umas com as outras sem mediações digitais. O reconhecimento e o agradecimento por toda programação, veio ao final, com os calorosos aplausos, abraços e fotos tiradas com os atores – que em nenhum momento se limitaram a ficarem apenas no palco, seja durante a encenação, seja ao término do mesmo, todo o tempo misturaram-se ao público, como deve ser um teatro que se propõe ser do povo.



[1] Mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp, Graduado em História pela Unicsul, membro do Núcleo Brasileiro de Pesquisadores em Teatro de Rua, articulador da RBTR e do MTR/SP, ator do Buraco d`Oráculo.





Um comentário:

Teatro a Bordo disse...

Muito obrigada pela sua presença e a de sua família, Adailtom! Agradecemos de coração as belas palavras dedicadas ao espetáculo e ao projeto! grande abraço. Talita Berthi