Por Adailtom Alves - Historiador e ator
Um dos maiores problemas do século XXI é enfrentado nos centros urbanos: o viver nas cidades. O mundo tornou-se urbano e a aglomeração de pessoas, na busca por uma vida melhor, tornou-se caótica em grande parte das cidades brasileira, sejam grandes ou médias.
O teatro sempre teve papel importante junto às cidades e aos cidadãos, pois através dele discutiu-se, ao longo dos milênios, os problemas da polis. Teatro e cidade sempre estiveram interligados. Foi assim na Grécia, na transição do período oligárquico para o democrático, foi assim na Idade Média em que a cidade era palco e cenário dos grandes espetáculos.
No Brasil temos hoje a primeira macrometrópole do hemisfério sul: a região metropolitana de São Paulo encontrou-se com a região metropolitana de Campinas, concentrando 12% da população brasileira. Quanto a cidade de São Paulo, está dividida em noventa e seis distritos, nos quais moram onze milhões de habitantes e seus equipamentos culturais, a sua imensa maioria, está na região central, em 14% do território, onde vivem 20% da população.
Em uma cidade desse porte (e em todas, de maneira geral), o teatro de rua cumpre um papel fundamental, já que pode descentralizar o acesso. Descentralizar não apenas no sentido de tirar do centro, mas de permitir o acesso àqueles que não costumam freqüentar as salas de espetáculos, independentemente de qual região da cidade ele habita.
O teatro de rua é uma manifestação marginal que utiliza o corpo e o discurso no espaço aberto urbano a serviço do estético, apropriando-se ou não da paisagem urbana como cenário, de maneira a permitir a fruição a um público passante. É marginal porque opõe-se a lógica capitalista, já que não cobra ingressos e rompe com o escoadouro do capital (a rua), dando-lhe novo significado, já que o cidadão que passa torna-se um espectador, ou seja, durante um espetáculo de rua o espaço aberto torna-se um local de fruição.
O teatro, como arte de seu tempo, deve refletir sobre a relação do homem no espaço urbano e os problemas gerados a partir disso. O teatro de rua, por permitir deslocar-se a diversos lugares sem perder os pressupostos técnicos e estéticos, deve cumprir o seu papel mobilizador, co-movedor (mover junto), isto é, deve coletivizar os problemas da cidade, ao mesmo tempo em que permite a fruição dessa arte milenar por parte de uma camada social alijadas dos bens culturais.
Mas do que nunca, teatro de rua e cidade estão umbilicalmente ligados e esta relação vai para além do uso da mesma como local de encenação, o viver na cidade e os problemas daí advindos devem aparecer nos espetáculos teatrais, pois já que a arte nos incita a criação e a re-criação, essa relação pode nos apontar novos caminhos.
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