Por João Carlos Andreazza – ator e diretor
A rua é o advento da modernidade. Ela surge com as técnicas de pavimentação. Ela surge da idéia de Haussman, uma espécie de arquiteto e pensador, que foi contratado por Napoleão III para criar uma nova forma de se visualizar esse núcleo urbano. Ele cria para esse tipo de pavimentação o que ele chama de “Lodaçau de Macadame” e que tinha um sério problema: nos dias de verão levantava uma poeira absurda e nos dias de inverno virava um grande pântano. Então esse foi o grande problema entre Haussman e Napoleão III. Mas por que ele precisou criar isso? Porque precisava ser criada nesse núcleo urbano uma nova forma de policiamento. Então ele pensou a criação de um Boulevard, que nada mais era do que uma grande avenida, arborizada, com calçadas largas e é aí que vai acontecer a grande transformação: Nessas calçadas vão ser criados os cafés e tudo que acontecia dentro da casa passa a ser levado para esses locais, ao lado das carruagens que começam a percorrer essas avenidas trazendo o início do grande mal trazido pelo progresso que nós conhecemos como tráfego.
A rua é o advento da modernidade. Ela surge com as técnicas de pavimentação. Ela surge da idéia de Haussman, uma espécie de arquiteto e pensador, que foi contratado por Napoleão III para criar uma nova forma de se visualizar esse núcleo urbano. Ele cria para esse tipo de pavimentação o que ele chama de “Lodaçau de Macadame” e que tinha um sério problema: nos dias de verão levantava uma poeira absurda e nos dias de inverno virava um grande pântano. Então esse foi o grande problema entre Haussman e Napoleão III. Mas por que ele precisou criar isso? Porque precisava ser criada nesse núcleo urbano uma nova forma de policiamento. Então ele pensou a criação de um Boulevard, que nada mais era do que uma grande avenida, arborizada, com calçadas largas e é aí que vai acontecer a grande transformação: Nessas calçadas vão ser criados os cafés e tudo que acontecia dentro da casa passa a ser levado para esses locais, ao lado das carruagens que começam a percorrer essas avenidas trazendo o início do grande mal trazido pelo progresso que nós conhecemos como tráfego.
Nesse momento histórico acontece uma transformação contundente: a vida privada passa a existir ao lado da vida pública. O que era discutido no conforto de uma casa passa a ser discutido em um café, sob os olhos de pessoas estranhas. O público e o privado passam a acontecer de forma muito íntima. A rua se torna um grande divisor de águas entre o que existia no teatro e o que passa a existir a partir daí até os dias de hoje. Se em um primeiro momento a gente tem Haussman falando do Lodaçau de Macadame, num segundo momento vamos poder reproduzi-lo diminuindo essas calçadas e virando um ambiente voltado para o tráfego como se a rua fosse um grande sistema circulatório vital para cidade, que cria sistemas de abastecimentos que não ficam aos olhos do público.
A rua vai ter um papel de transformação social incrível ao longo da história: eu posso citar a revolução proletária, o grande desfile do 2o Reich etc. Nesse momento nós vamos perceber dois movimentos: as carruagens são liberadas dos cavalos. O povo que passa e transforma esses elementos dinâmicos em elementos inertes. Libertando os cavalos, as carruagens não andavam mais. Num 2o momento o povo vira essas carruagens de cabeça para baixo e transforma em barricadas. O que Napoleão III pediu para Haussman fazer - a criação do Boulevard – era na verdade um aparelho de policiamento. Ou seja, ele criou a rua para que pudesse transportar sua polícia para coibir qualquer levante popular e o povo acaba percebendo isso e transformando esses elementos inertes em barricadas. O povo rearranja esse ambiente pra criar um confronto e ao mesmo tempo se proteger. Esse é um movimento muito interessante e eu sinto que hoje o teatro de rua tem um papel semelhante que passa por esse viés, essa cepa que se torna a rua. É uma cepa extremamente frutífera para nós como artistas. Quando eu falo essa frase pra vocês: “O teatro é a melhor escola pública da boa e da má formação de um povo” é porque eu acredito no teatro como instrumento de educação muito forte e que não pode ser deixado de lado. A recuperação da rua é o grande desafio social do nosso século e é dentro dessa vertente que eu vejo o teatro de rua. Eu não o vejo como uma forma utilitária mas como uma forma prazeirosa de fazer teatro, que deve ser encarada de uma de uma maneira séria e gostosa. É isso que fazemos quando escolhemos as linguagens com as quais vai trabalhar e levar pra rua: música, circo, máscaras, enfim, tudo aquilo que tem cor, vida, sendo que cada vez mais percebemos um mundo monocromático onde a rua serve somente ao fluxo econômico de uma cidade.
Eu gosto de ver o teatro de rua de uma maneira alegre e que tenha um papel de recuperação desse espaço que a gente perdeu dentro da cidade, que é a rua. Eu sou o exemplo de uma pessoa que aprendeu a amar a cidade com o tempo e vejo que as pessoas que chegam tem muito medo da cidade. Por isso hostilizam, pelo medo de serem hostilizadas. Nesse momento eu sinto que essa proximidade que o teatro de rua tem, de fazer sua representação no mesmo piso que o público está, é uma maneira que o artista tem de falar com seu semelhante de uma forma muito direta. Esse diálogo que se estabelece com o público é forte porque quando um ser humano fala diretamente com outro ser humano não tem como o diálogo não se estabelecer. O cara só vai ficar ali pra ver o que está sendo feito porque gostou! De alguma forma a gente vai se fazendo entender por aquela pessoa que está lá.
O compromisso que a gente tem com teatro de rua não é uma falta de opção, muito pelo contrário. É porque entendemos que é uma grande opção. Não é porque não temos lugar pra fazer. Essa é uma história que a gente inventou pra gente mesmo e é uma história muito bonita e que pode ter desdobramentos maravilhosos.
Quando eu vejo uma platéia desse tamanho (refere-se ao público do seminário) e sei que tem gente que trabalha na rua há seis, dez anos, e tá se reunindo pra discutir, encontrar novas formas e dinâmicas de trabalho, novas linguagens, é porque existe um interesse bravo por parte de todos vocês de incrementar cada vez mais o trabalho, de tentar seduzir o público que pode ter começado pequeno e arredio nas primeiras apresentações mas que, pela própria persistência dos grupos, já se mostra mais receptivo as nossas apresentações.
O teatro de rua é um instrumento que temos na mão, que podemos usá-lo com a devida utilidade que um ator tem quando abre um diálogo direto com o público. É isso que a gente tem que ter e muito. Não importa a linguagem, importa que a gente toque a sensibilidade das pessoas de uma forma plena, que a gente perceba o brilho nos olhos das pessoas no momento da representação. Quando a nossa intenção é recuperar o espaço da rua como espaço de confraternização e criar o éden no meio do caos, isso é importante! Eu entendo o Teatro de rua com essa força, ele é destituído das formas burguesas do fazer teatral porque não está preso dentro das salas fechadas, porque a gente não tem que cobrar ingresso, a gente pode passar o chapéu e quem quiser dar dinheiro, que contribua! É nessa comunicação do ser humano, colocando suas necessidades de sobrevivência é que a gente vai fazer com que as pessoas sintam mais amor umas pelas outras. Pode parecer muito pueril, mas na realidade é de fundamental importância a gente se relacionar com amor com as pessoas. E o amor é a grande forma de comunicação e eu sinto que quando a gente faz teatro tá fazendo isso.
(Palestra proferida no I Seminário de Teatro de Rua em 04/08/03 – Realizado no Barracão Pavanelli. Este Seminário foi o pontapé inicial para a criação do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo)
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