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sábado, 29 de janeiro de 2011

Leia o Discurso de transmissão de cargo do Secretario de Cultura Albino Rubim - 24 de Jan 2011

 
Para nós do Movimento de Teatro de Rua da Bahia o discurso proferido pelo Prof. Albino Rubim, novo Secretário de Cultura da Bahia, no ato de transmissão do cargo ocorrido neste 24 de Janeiro de 2011, gerou euforia entre os excluídos da cultura, principalmente nos últimos  04 anos da gestão de Márcio Meirelles, talvez por isso, nas palavras do novo Secretário,  a cultura popular, o teatro experimental e o teatro de rua terão uma atenção especial na sua gestão: "lutar pela consolidação de uma cidadania cultural para todos e pela instalação de uma cultura cidadã no Brasil e na Bahia..." É isso que se espera.
O ato de transmissão do cargo teve momentos singulares protagonizados por Márcio Meirelles que chorou, ao perceber que naquele momento não havia mais volta, pois  o Governador Jaques Wagner avaliou que a Cultura era um dos setores mais conflituosos na sua primeira gestão provocados, não apenas por mudanças de paradigmas na política cultural do estado, mas também pela vaidade do ex-secretário, que perseguiu os seus desafetos em questões pessoais, entre eles ativistas históricos, ligados à militância da base de sustentação do governo, que, mesmo tendo "comido  sal" ao longo dos tempos, continuam na soleira da porta, tomando sol, chuva e sereno...
A outra dor de Márcio Meirelles, ex-secretário de Cultura, no seu discurso de despedida, foi - como deixou implícito, não ter contando com a colaboração direta da sua esposa Cristina Castro (bailarina do Ballet do TCA), porque a lei impede o nepotismo e por isso não pode nomeá-la para um cargo de confiança na sua gestão.  Aliás, vale lembrar que foi justamente a esposa/ bailarina que ajudou o seu marido ex-secretário na perpetração da estratégia  para desmantelar o Ballet do Teatro Castro Alves, com o propósito mesquinho, segundo bailarinos do corpo estável do TCA,  justamente visando  valorizar o  grupo de dança  VilaVox.
O discurso do Prof. Albino Rubim foi alentador. Falou sobretudo de mudanças que, para nós do Movimento de Teatro de Rua da Bahia, é sinal para o diálogo, uma mudança de paradigma, implícito no trecho do seu discurso:
"[...] Medidas de financiamento criativas, adequadas à diversidade de expressões culturais, serão formuladas e aplicadas aos campos culturais específicos. Em colaboração com a comunidade teatral vamos esboçar uma política de apoio à profissionalização de nosso teatro. Sem esquecer, no entanto, suas manifestações que não obedecem necessariamente a esta dinâmica como o teatro experimental e de rua."
Leia o discurso na íntegra:
Discurso de transmissão de cargo do Secretario de Cultura Albino Rubim
Publicação: 24/01/11 | 15H01 - Última Atualização: 24/01/11 | 17H01 (http://www.secult.ba.gov.br/)
Salvador, 24 de fevereiro de 2011

Fui escolhido pelo governador Jaques Wagner para dirigir a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no seu segundo mandato. Quero agradecer sua confiança; dizer da honra desta missão; afirmar minha satisfação e assumir agora a responsabilidade de prosseguir o trabalho empreendido pelo ex-secretário Márcio Meirelles e sua equipe.
Um segundo mandato de governo é o reconhecimento do realizado e implica no prosseguimento do trabalho. Logo, meu primeiro compromisso é dar continuidade aos programas e projetos que fizeram avançar de modo significativo as políticas culturais na Bahia nos últimos quatro anos. Eu e minha equipe iremos buscar consolidar tais políticas.
Mas um novo governo deve igualmente aperfeiçoar seu trabalho. Aliás, nosso governador em várias oportunidades tem enfatizado sua disposição de aprimorar a gestão no segundo mandato. Vamos seguir a orientação do Governador Jaques Wagner e acrescer às políticas anteriores elementos novos, sejam eles desdobramentos dos resultados alcançados ou inovações que respondem aos desafios inscritos nas conjunturas contemporâneas.
Gostaríamos, então, de expor as diretrizes que irão orientar a continuidade e a inovação que desejamos implantar.
Toda política cultural, para fazer jus à denominação, aciona a política para desenvolver a cultura. Mas este denominador comum – desenvolver a cultura – é nitidamente insuficiente para expressar as singularidades das políticas culturais.
No caso brasileiro e baiano, elas têm que ser pensadas como inscritas na transformação que acontece hoje na nossa sociedade. Tal processo altera, através de reformas, as condições sócio-econômicas e inclui parte significativa da nossa população. Cabe equacionar o que ocorre na dimensão cultural deste imenso movimento de transformação; lutar pela consolidação de uma cidadania cultural para todos e pela instalação de uma cultura cidadã no Brasil e na Bahia.
Trata-se, portanto, de politizar as políticas culturais. Mas este movimento não pode nunca ser confundido com a instrumentalização da cultura. As experiências históricas de excessiva politização foram nefastas para a cultura. Quando a cultura é apenas um instrumento da política temos sempre uma situação de grande perigo para a cultura.
Política cultural, pelo contrário, significa colocar a política como instrumento a serviço do desenvolvimento da cultura. Mas a política cultural como o nome já indica é política, pois implica sempre em: escolhas, opções e posicionamentos. Nesta perspectiva, nos colocaremos sempre ao lado dos valores republicanos, democráticos e libertários. Valores associados à radical democratização da cultura; transparência; trabalho colaborativo; aprimoramento da gestão; atuação integrada em rede e definição de prioridades.
Nossa atuação deve ser múltipla, mas focada em prioridades definidas. Os principais eixos temáticos que orientaram a Secretaria de Cultura são cinco: diálogo intercultural; institucionalidade cultural; territorialização da cultura; economia e financiamento da cultura e transversalidades da cultura.
A cultura não se desenvolve de maneira isolada e auto-suficiente. Seu enriquecimento requer e supõe sempre intercâmbio. Cooperação, trocas e tensões são essenciais para o avanço da cultura. Sem um ambiente dinâmico a cultura não ganha vida.
Mas para que exista intercâmbio é necessária a afirmação de identidades, concebidas em modalidade não essencialista. As identidades e a diversidade são premissas para o diálogo intercultural.
Na Bahia precisamos ter políticas para as artes e as culturas populares, sejam elas afro-baianas, do sertão ou de alguma das regiões culturais que marcam e dão identidade ao nosso estado. Assumimos aqui o compromisso de construir políticas para as artes e as culturas populares, na sua diversidade de manifestações. Políticas que busquem um contínuo diálogo intercultural com expressões culturais contemporâneas, locais e globais.
O intercâmbio se fará também através do estímulo ao debate e critica cultural, em diferenciados suportes, acionados em dicção colaborativa. Neste sentido, vamos criar fóruns de pensamento crítico para debater amplamente temas políticos e culturais atuais e reanimar publicações.
Outra prioridade será o desenvolvimento da institucionalidade cultural. O campo da cultura no Brasil e na Bahia padece de um déficit institucional. Temos poucas e frágeis instituições. Estamos comprometidos com: reforma administrativa com implantação plena da SECULT; Lei Orgânica da Cultura; legislações culturais; Sistema Estadual de Cultura; Plano Estadual de Cultura; Conferência Estadual de Cultura e renovação do Conselho Estadual de Cultura.
Vamos racionalizar e potencializar os organismos existentes, com a redefinição de algumas de suas atribuições. Pretendemos reformar fisicamente equipamentos – a exemplo do TCA e da Biblioteca Central – e criar novos organismos, como: o Instituto Baiano de Museus (IBAM), a Cidade do Carnaval e um Complexo Cultural no Palácio da Aclamação.
A territorialização da cultura – marca fundamental da atuação da gestão de Márcio Meirelles, que deu à Secretaria uma envergadura verdadeiramente estadual – vai prosseguir e se consolidar. Ênfase especial será dada: aos Pontos de Cultura e suas redes; à animação dos centros culturais localizados nas maiores cidades da Bahia; à regularização da situação dos representantes territoriais da cultura e ao fórum dos dirigentes municipais de cultura. Toda a atuação da Secretaria será perpassada pelo fortalecimento da territorialização da cultura.
A economia e o financiamento da cultura aparecem como substratos vitais da promoção e proteção da diversidade cultural. Devemos formular e implantar um sistema de financiamento amplo que possa dialogar com a complexidade do campo cultural. Este sistema deve acolher os mais diversos mecanismos de financiamento à cultura, objetivando sempre garantir a diversidade, o desenvolvimento e o diálogo intercultural.
Medidas de financiamento criativas, adequadas à diversidade de expressões culturais, serão formuladas e aplicadas aos campos culturais específicos. Em colaboração com a comunidade teatral vamos esboçar uma política de apoio à profissionalização de nosso teatro. Sem esquecer, no entanto, suas manifestações que não obedecem necessariamente a esta dinâmica como o teatro experimental e de rua.
Uma das características marcantes da cultura na contemporaneidade é sua transversalidade. Isto é, a ampliação crescente de sua interface com os diferentes campos sociais. Hoje a cultura perpassa toda a sociedade. Uma política cultural contemporânea não pode deixar de considerar as políticas transversais como momentos imanentes. Faremos um grande esforço para interagir com as mais áreas sociais, sempre em colaboração com suas respectivas Secretarias estaduais.
No âmbito destas políticas, privilégio será dado à interação entre cultura e educação. A premente necessidade de reativar esta conexão pode ser justificada através de diferentes argumentos. O distanciamento entre a educação formal e a cultura emerge como um deles. Ele configura um dos maiores obstáculos para a construção de uma escola atraente, integral e qualificada, requisito fundamental da democratização da cultura e da sociedade.
Em outro horizonte, a crescente necessidade de profissionais capacitados em cultura e mais especificamente em organização da cultura configura outra razão para buscar incessantemente o reforço desta interação.
Na verdade, o enlace entre cultura e educação tornou-se essencial para pensar as políticas culturais na atualidade.
Em cooperação com a SEC deverão ser efetuadas publicações conjuntas e atividades em escolas e centros culturais. Programas e redes de formação e qualificação em cultura, envolvendo também as universidades públicas federais e estaduais. Em conjunto com estas instituições pretendemos construir uma Universidade Popular – de preferência a ser instalada no Pelourinho – que oferecerá cursos de extensão, nas mais distintas áreas do conhecimento.
Em perspectiva similar, buscaremos um trabalho colaborativo com a nova Secretaria de Comunicação, pois na contemporaneidade é impossível conceber políticas de cultura sem uma associação com a comunicação. Grande parte da cultura contemporânea é produzida por aparatos sócio-tecnológicos. O cinema, o rádio e a televisão têm uma influência fundamental na conformação da cultura midiática como o circuito cultural hegemônico no mundo e no Brasil contemporâneo. Neste horizonte, o IRDEB é essencial para as políticas culturais na Bahia.
A cooperação com a área de Ciência e Tecnologia torna-se também fundamental, em especial para o campo das culturas digitais. No mundo contemporâneo cada vez mais fica evidente o enlace intimo entre cultura, ciência e tecnologia. As novas tecnologias produzem comportamentos, estilos de vida, atitude frente ao mundo, valores e, por conseguinte, novas modalidades de cultura, expressivas para desvelar o contemporâneo.
Não vou cansar vocês com uma enumeração exaustiva das interfaces da cultura que pretendemos trabalhar, mas não posso me furtar de dizer duas palavras sobre a conexão entre cultura e turismo. Sabemos que no passado tivemos em nosso estado uma relação complicada que levou ao divórcio entre cultura e turismo. Mas é inconcebível que não sejam estabelecidas relações em um novo patamar em que tanto a cultura quanto o turismo se beneficiem desta imprescindível interação.
A realização da Copa do Mundo no Brasil e na Bahia em 2014 abre uma janela de oportunidades que exige uma potente conexão entre cultura, turismo e esportes. Aqui temos outro desafio para a Secretaria de Cultura e para o Governo do Estado como um todo.
Um enorme desafio que tem que ser vencido de maneira altamente qualificada, pois os olhos do mundo estarão desde, pelo menos, 2013 sobre nós. A visibilidade mundial propiciada pela Copa do Mundo é, sem dúvida, uma das maiores oportunidades para que a cultura brasileira (e baiana, por extensão) se movimente em horizonte global, acompanhando e colaborando com o processo de afirmação internacional do Brasil como país que cada vez mais interfere nos destinos de nosso planeta.
Neste horizonte comparece o tema da revitalização do Centro Antigo de Salvador e de nosso patrimônio cultural. Eles só podem ser equacionados através da colaboração entre o governo estadual, nacional e municipal. Aqui temos outro espaço para o exercício em plenitude da transversalidade e do trabalho colaborativo entre as secretarias estaduais, outros entes estatais e a sociedade civil.
Guimarães Rosa afirmou: "o bonito nas pessoas é que elas ainda não foram terminadas". Nunca será demais lembrar que a cultura tem um papel vital no desenvolvimento das pessoas e das sociedades. Nosso desejo de revolucionar o mundo; conformar pessoas e sociedades generosas, solidárias, criativas e justas deve colocar a cultura em um lugar muito especial nas políticas públicas de governos que buscam a transformação social por caminhos radicalmente democráticos, como o Governo da Bahia.
Albino Rubim
 (disponível em: http://www.secult.ba.gov.br/)
Veja as fotos do evento:
http://www.flickr.com/photos/secultba/5384425785/in/set-72157625896830356/

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Marcos Cristiano
Caravana de Téspis - Teatro de Rua para a Cidadania
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