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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

2° Texto sobre o 9° Festival de Teatro de Rua do Recife



Espetáculo Apresentado durante 09° festival de Teatro de Rua do Recife e 32° Escambo Popular Livre de Rua no dia 13 de novembro de 2011 no Alto Zé do Pinho, Recife-PE

O Boi as Avessas – Grupo Arteiros (Olinda –Pe)

Texto de Luiz Filho LULINHA

Estávamos todos vindo em cortejo, cantando, brincando, estabelecendo um olho a olho com a comunidade do Alto Zé do Pinho, região de Recife como uma grande historia de existência e resistência, com seus terreiros, maracatus, poetas marginais, artistas de diversas áreas, o alto nos entregava a cada esquina, cruzamento e beco uma surpresa. Esse é um elemento característico, pois o Alto não tem uma praça larga, espaço aberto iluminado, no entanto essa circunstancia nos empurrou, ou melhor, empurrou o festival para densidade e o desequilíbrio da rua, da passagem dos carros, das gentes, das coisas.

E foi numas dessas surpresas das ladeiras e becos do Alto que o "Boi as Avessas" nos esperava e nos encontrava, já que também a comunidade naquele momento já nos acompanhava em nossa desbravamento no alto, geografia heterogênea, alto de nos mesmo, pois a cada andada no alto, reconhecia-se o alto de muitos outros altos pelo Brasil.

Curiosamente naquela esquina aonde íamos daqui a um pouco, no espetáculo, devassar as brincadeiras populares de Pernambuco através do " O Boi as Avessas", havia uma quitanda, boteco, já cheio de moradores, rindo, conversando, brincando, tudo isso fazia parecer que aquele espaço aparentemente não suportaria o cortejo, a comunidade e o espetáculo, no entanto, novamente a rua, o espaço público, o espaço aberto nos jogou na possibilidade do impossível, e assim fomos nos arrumando, cedendo, ajeitando, espremendo e por fim uma roda-viela, uma roda-beco fez o boi brincar, abriu espaço para a catirina novamente rememorar seu infinito desejo de desafiar, seu infinito desejo de desejar algo.

Catirina no espetáculo "O Boi as Avessas" queria à língua do potente e singular velho dengoso figura marcante do Pastoril pernambucano. E assim Mateus era levado há uma caminhada para os diversos brincantes da cultura, pois se o velho dengoso não podia dar sua língua, pela eminente extinção de sua brincadeira nas ruas de terreiros de Pernambuco, ele ia atrás da língua do caboco de lança, do vaqueiro e tantos outros brincadores. Mateus nos conduzia por aquele busca incessante de realizar um desejo que era nosso próprio desejo, era nossa redescoberta.

Nesse contexto o grupo nos jogava nas contradições, desafios e labuta de nossa arte brincadora. Nos jogava na critica aos editais, em que certo momento da cena foi satirizado com uma pequena melodia "editais é de tais, tais, tais". O espetáculo brincava, questionava, esbravejava a metáfora real dos salteadores da nossa subjetividade, dos mercenários do que Amir Haddad cita como "não posso vender minha subjetividade". Ou em outra poesia também citada durante o 32° Escambo "Quanto vale minha arte, quanto?".

Nesse sentido, a sempre conhecida, porém misteriosa, encantada e simbólica historia do desejo de catita por uma língua, estando ela grávida, cheia da vida e da força que todo brincante, que toda arte popular carrega, era o pano de fundo para desafiar. Para denunciar a mercantilização de nossas cores (cordão azul X cordão encarnado), o desfalecimento do Pastoril frente à tentativa de existir como arte e não como mercadoria. O velho dengoso nos transmite sua mensagem de reviver a cada momento de brincadeira nossa existência-arte, nossa arte de existir, pois "quanto vale minha arte, quanto?".

                                                 por Raquel Franco, Atriz e Palhaça, nas horas vagas mestranda em artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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