ARR'ÉGUA – AQUI SÓ TEM PROFISSIONAL DE TEATRO?
Desde menino – há uns trinta e nove anos – quando comecei a dá meus primeiros passos na arte mágica do teatro - que a síndrome do teatro profissional me persegue como uma alma desumana e cruel.
Logo eu, que lá para os idos de 1973 - ou seja – cinco anos antes da regulamentação da profissão - tive a felicidade de integrar o primeiro elenco de atores da Tv. Universitária de Natal - e quem sabe os primeiros a terem suas carteiras assinadas – não como atores ou atrizes - mais ridiculamente com o nome de interpretes, devido não constar na lista de profissões do DASP, o termo ator, atriz ou diretor de teatro, coisa que só ficou definida por lei a partir de 1978.
Nesse período por sermos na Tv. Universitária os únicos artistas do Rio Grande do Norte profissionalizado, não tínhamos sindicatos. Até porque o sindicalismo na área engatinhava por todo Brasil, sendo mais representativo no Rio de Janeiro e São Paulo e começando ainda de forma bisonha na Bahia.
E lá estávamos todos nós "os amadores" ligados as federações e confederação de teatro – FENATA e depois CONFENATA -brigando com os "ditos profissionais" pelos poucos recursos destinados a cultura e principalmente ao teatro via o Serviço Nacional de Teatro – SNT - que depois virou Instituto Nacional de Artes Cênicas – INACEN e por último Fundação Nacional de Artes Cênicas – FUNDACEN – que Fernando Collor de Melo orientado por alguns urubus profissionais que os apoiaram, fechou sem nos dá nenhuma consideração.
Já nessa época me doía ter que AMAR a DOR;
Já nessa época me chateava a insistência e a cobrança pra que se filiasse a um sindicato;
Por essa época já não agüentava e gritava contras as punições impostas pelos dirigentes sindicais que só quem podia atuar era quem fosse sindicalizado e que estivesse em dias com as mensalidades.
Lembro-me ainda de uma palestra com o Ex-presidente do SATED-RJ o companheiro Sérgio Sanz, onde ele criticava com veemência os sindicatos que surgiam em meio ao modismo, sem a participação efetiva dos fazedores de arte, sindicalizando de forma indiscriminada manequins, prostitutas e farsantes sem nenhuma história no teatro.
Não posso deixar de recordar o primeiro sindicato que surgiu em Natal onde a primeira Dama era madrinha do sindicato, como se aquilo fosse uma brincadeira de debutantes.
Não posso deixar de registrar a omissão desse mesmo sindicato quando de forma arbitraria fui preso no governo ditatorial do Sr. José Agripino Maia em 1993 e o sindicato lavou as mãos para não perder as benesses do poder.
Nós fazedores de teatro precisamos ler a história de forma e ângulo diferente das que nossos profissionais suburbanos estão querendo contar. Precisamos lembrar que num passado recente fomos acunhados de AMADORES por uma elite teatral que se auto-denominou de PROFISSIONAL. Não podemos esquecer que colocaram nas nossas cabeças que o amadorismo era o primeiro degrau pra se chegar a profissionalização e quantos de nós não perderam noites, sonhando como essa possibilidade? Até hoje encontro com artistas anônimos correndo pras filas de figurantes das novelas globais, sonhando em ser estrelas e tornando-se em suas cidades pessoas chatas, arrogantes porque fizeram uma ponta ou porque passaram num testinho ridículo de um filme ou uma novela.
Não quero tornar esse inscrito uma forma de agredir esses "pobres molambos" artistas cabeças ocas, quero centrar minha criticas na forma estabelecida, no rigor e na tentativa ridícula dos sindicatos em tentar impedir que artistas representem por conta própria.
Com uma história cheia de um fazer acumulado na difícil missão de tornar o teatro cada vez mais popular e não somente fechado num confortável super-mercado cultural exibindo-se sempre para os mesmos, quero – junto com todos os brincantes e arteiros – viver o direito de continuar a ter as ruas como espaço de livre manifestação, se organizando através de movimentos e uma rede popular e aos mesmo tempo respeitar o direito daqueles que a séculos ocupam os palácios de luxo cumprindo a missão estabelecida pelos seus donos – produtores, patrocinadores, financiadores – dando o que eles querem e gostam, tão bem definida na frase histórica do J. C. Mariategui do Peru e que se encontra registrada no livro EM BUSCA DE UM TEATRO POPULAR do incansável CESAR VIERA – grande fonte de pesquisa e alimento para os artistas populares, que diz:
" A burguesia quer do artista
uma arte que corteje e adule
seu gosto medíocre".
Macau-RN, 01 de novembro de 2011
Júnio Santos
Um brincante arteiro de rua
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