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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Carta de Juliano Espinhos compartilhada na roda XI Encontro da RBTR

 

Somos Articuladores de uma rede onde os peixes alimentam o imaginário e traz a reflexão e transforma o interior, tanto de nós quanto de quem vê.     Vou neste momento falar de uma cena, que durante uma rodada de Aywhaska me tomou e levou-me a - hoje com muito carinho mais uma imensa preocupação - lhes escrever.

Vi uma grande maquina que passava por cima de tudo que existe na floresta. Os animais fugiam com o barulho dos motores, mulheres e crianças choravam, os homens entregavam suas vidas para defender suas famílias, mais a maquina passava por cima de tudo, arrancava as arvores pela raízes. Depois que ela passou, só restou escuridão. Não se escutava nem um zogui- zogui  a gritar, nem formas nem cores não existia mais vida.

Depois deste trabalho (ritual) tentei entender o que vi  não foi difícil. Essa máquina é o sistema insustentável, herdado e conservado no formol, que defende interesses de uma minoria que, cegados pela ilusão de serem Deuses, passam por cima de tudo e todos. Estamos em um momento muito delicado em nossa História, onde os valores estão em ter, possuir, lucrar a qualquer custo está atropelando a Constituição, como foi em Belo Monte. Estamos caminhando cada vez mais em direção de um caminho de um governo totalitário, com interesses e ação inconsequentes; estão devorando a Amazônia em grandes fatias, onde os recursos naturais são o recheio e a cobertura deste bolo é o sangue, o sofrimento é a musica, a vela é a floresta em chamas.

Fiquei mais assustado quando recebi uma noticia de um amigo Huni  Kuin que eu estava aguardando chegar a Rio Branco, que ele não iria mais vir, pois precisava ir para a aldeia com urgência, pois sua aldeia foi atacada por outros índios Brabos (conhecidos também por isolados, pois resistem na floresta em outro sistema o de sua cultura), como este, ocorreu mais um conflito com este mesmo grupo mais em uma comunidade ribeirinha. Ainda não se sabe o número de mortos. Na escola estudamos sobre as correrias e extermínio dos povos indígenas e parece coisa distante. Este fato aconteceu ontem, estes isolados vieram fugidos, pois, devido a pressão da grande máquina, seu território está sendo destruído e as correrias os empurram do Pacífico, para as terras do Acre, forçando estes povos a entrarem em comunidades ribeirinhas e aldeias de outros povos na busca de ferramentas e alimentos, causando conflitos.

Outra informação que me deixou chocado foi o massacre de 80 (oitenta) Yanomames na Colômbia por garimpeiros, também na Amazônia. Como falei estamos em um momento muito delicado.  Alguns podem se perguntar, mais o que isto tem haver com um encontro de grupos de teatro de rua que tratam de políticas públicas para o teatro?

Somos Articuladores de uma rede onde os peixes alimentam o imaginário e traz a reflexão e transforma o interior, tanto de nós quanto de quem vê. Este também é o custo Amazônico: custa os sonhos, a Alegria, a diversidade, a vida, os direitos humanos... Que é atropelado pelo "progresso". Esta é a realidade de um grupo que carrega a rua e a floresta. Acredita nesta rede articulada com a construção  de ações  integradas com as realidades e os povos, a floresta e o mar, em busca da construção de um teatro transformador e que revoluciona de dentro pra fora. Pois com nosso fazer chegamos ao interior das pessoas e juntos formamos um coro que ecoa, com pensamento firme e braços fortes, com coragem e um imenso coração.

Juliano Espinhos - Grupo Vivarte teatro de rua e floresta comunitário, artístico cultural, político, social e ambiental. Rio Branco-Acre._._,_.___

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