CARTA ABERTA
Nós, grupos, artistas, produtores e gestores culturais do interior, litoral e grande São Paulo, participantes do 5º Fórum do Interior: Artes e Políticas Públicas – Osasco , dias 05, 06 e 07 de julho de 2013 – reunimo-nos para debater ideias sobre a atual política cultural do estado de São Paulo em relação à formação, pesquisa, produção e difusão cultural, e apontar alternativas que garantam a continuidade e a permanência do artista em sua região.
Reafirmamos as discussões debatidas nos Fóruns anteriores e acrescentamos novos apontamentos de acordo com a demanda e diagnóstico atuais apresentados por esta Assembléia:
Deve-se ressaltar que evitar o êxodo involuntário dos artistas garante o acesso democrático e amplo da população local às suas referências culturais, simbólicas e arquetípicas. Só assim provoca-se a reflexão e o desenvolvimento dos sensos estético e ético compartilhados pela comunidade e necessários para o desenvolvimento de seu patrimônio imaterial.
Percebemos que, ao longo das últimas décadas, vem acontecendo avanços e conquistas substanciais na produção artística fora da capital, todavia, as políticas públicas do estado de São Paulo parecem indiferentes a tais transformações. Neste sentido, consideramos a necessidade da construção de um novo olhar e a reformulação das ações que contemplem a grande produção dessas regiões, garantindo o acesso verdadeiramente democrático e amplo à programas e verbas públicas estaduais voltadas à formação, produção, circulação e fomento artísticos.
É imprescindível também que as políticas públicas se pautem no sentido de garantir aos artistas condições de trabalho em suas cidades e regiões, eliminando de vez o pensamento que considera as cidades do interior, litoral e grande São Paulo, como "celeiros" de artistas para a capital, ou seja, que sair de suas cidades possa ser aos artistas uma escolha e não falta de opção.
Por fim, é fundamental que haja maior participação dos artistas locais organizados em conselhos, fóruns e comissões nos processos de elaboração, acompanhamento e avaliação das políticas públicas do estado de São Paulo.
Desta maneira, acreditamos ser necessário considerar imediatamente as seguintes reivindicações:
1. Garantir a equiparação entre os recursos aplicados no ProAC Editais e ProAC ICMS;
2. A publicação de editais específicos para o interior, litoral e grande São Paulo, com rubrica orçamentária própria, com os valores das premiações não inferiores aos da capital e comissões de seleção que conheçam a atual produção artística do estado;
3. Garantia de que 50% de todo orçamento destinado aos Editais ProAC contemplem a produção do interior, litoral e grande São Paulo.
4. Criação de uma comissão mista (poder público e sociedade civil da LIGSP) de conhecimento, mapeamento e acompanhamento da produção artística realizada fora da capital, que tenha como objetivo analisar e verificar suas reais demandas.
5. Revisão do Programa de Ação Cultural (ProAC) para adequação às demandas locais existentes. Além destas reivindicações, consideramos necessária a reformulação dos programas Projeto Ademar Guerra, Mapa Cultural Paulista, Virada Cultural, Circuito Cultural e Oficinas Culturais Regionais, pois identificamos os seguintes aspectos:
- Deficiência nos processos avaliativos e de seleção de todos os programas supracitados, pois não dialogam com os coletivos artísticos, agentes culturais e espectadores do LIGSP durante as suas fases de formulação e planejamento;
- Os projetos, quando postos em conjunto e em perspectiva, evidenciam a inexistência de uma política cultural contínua e estruturante onde a formação, difusão e fomento não funcionam conjuntamente;
- A elaboração estrutural e pedagógica dos programas é realizada de forma insuficiente e centralizada, ou seja, as realidades específicas das cidades do interior, litoral e grande São Paulo são muitas vezes desconsideradas durante o processo de curadoria, gerando desperdício de recursos públicos e ociosidade de ações.
Acreditamos também ser de vital importância a reformulação das ações de formação e capacitação nas Artes e na Cultura. Entendemos que uma política de formação para o estado de São Paulo precisa acontecer através de três eixos:
1) Formação do artista;
2) Formação de público;
3) Formação do artista gestor e do artista produtor.
Essa formação integrada não pode estar inserida na política de eventos, que leva em conta apenas a estatística de público; bem como as oficinas pontuais que não tem continuidade ou coerência com o contexto de produção local.
1) Formação do Artista
É necessária a descentralização da formação no estado de São Paulo em diversos níveis, elaborados de acordo com uma análise e acompanhamento local dos grupos/artistas e público. Um aspecto importante é o fomento de escolas livres e escolas superiores estaduais de artes, estabelecidas por região. A experiência nos mostra que a criação de núcleos de pensamento e ações artísticas gera organização de grupos, e resulta em movimentação e transformação na cidade.
2) Formação de Público
É preciso ampliar programas de formação de público para que as artes e a cultura sejam inseridas no cotidiano, criando condições do grupo/artista estabelecer um trabalho duradouro na sua comunidade.
3) Formação do Artista Gestor e Artista Produtor
Promover a capacitação continuada do artista, que dialogue com a sua realidade, oferecendo-lhe ferramentas para que se criem melhores condições de elaboração e gestão de projetos que viabilizem a manutenção dos coletivos.
Defendemos, ainda a criação de um Edital Público para Manutenção de Espaços onde se desenvolvem Trabalhos Artísticos, cujas ações se desdobrem num determinado território.
Repudiamos, por fim, a terceirização dos programas públicos para entidades não governamentais, via OS´s (Organizações Sociais). Acreditamos que esse processo fere os princípios republicanos: o que é público deve ser gerido pelo Estado.
O Fórum elegeu, ainda, a cidade de Ribeirão Preto como a próxima localidade a receber o 6º Fórum do Interior, Litoral e Grande São Paulo, em 2014.
Assinam os grupos, artistas, associações, movimentos e pontos de cultura abaixo.
A Confraria Produções Artisticas – Santos
Andaime Teatro – Piracicaba
Artefato Cultural – Santos
Associação de Cultura e Arte – Ribeirão Preto
Associação Espaço Cultural Fábrica das Artes – Americana
Ateliê Casarão – Jundiaí
Banda General Blues – Franca
Banda Sleepers – São Caetano do Sul
Barracão Teatro – Campinas
Baú d'Cenas – São Caetano do Sul
Boa Companhia – Campinas
Canoa Encantada Teatro de Animação – Hortolândia
Capoeiraibeca – Campinas
Catavento Produções – Araçatuba
Centro Cultural Casa de Joana - Hortolândia
Centro de Educação Popular Jacuba – Hortolândia
Cia. Aroeiras do Brasil – São Vicente
Cia. Arte-Móvel – Americana
Cia. Balacco do Baco – Ribeirão Preto
Cia. de Espetáculos Dramaturmaquia – Bebedouro
Cia. de Teatro Bamuar – Osasco
Cia. de Artes Cênicas "Rio Circular" – Barretos
Cia. de Teatro São Genésio - Hortolândia
Cia. do Trailler – São José dos Campos
Cia. Corpus – Marília
Cia. Cubo Cênico – São José dos Campos
Cia. Cupim de Teatro – Americana
Cia Estopim de Teatro – Americana
Cia. Teatral Ainda sem Nome – Ribeirão Preto
Cia. Teatral Fábulas – Hortolândia
Cia. Teatral Lendas de Eucaniqui – Araraquara
Cia. Teatral Tertúlia – Ribeirão Preto
Cia. Teatro da Cidade – São José dos Campos
Cia. Teatro dos Ventos – Osasco
Cia. Os Profiçççionais de Ribeirão Preto
Circo Teatro Rosa dos Ventos – Presidente Prudente
Cláudia Alves Fabiano – São Carlos
Coletivo Arte na Polis – Osasco
Contadores de Mentira – Suzano
Cooperativa Paulista de Teatro
Delirivm Teatro de Dança – São Simão
Dilson Rufino da Silva – TUSP Ribeirão Preto
Federação Prudentina de Teatro e Artes Integradas – Presidente Prudente
Francisco Serpa Peres – TUSP Bauru
Frida Kahlo Butoh– São Bernardo do Campo
Futuro Telescópio – Bauru
Gato Coletivo Artístico – Hortolândia
Graffiti – Sumaré
Grupo 108 Desejos – São Bernardo do Campo
Grupo Arte Cultura Rio Claro – Rio Claro
Grupo CETA – Piracicaba
Grupo Cochichonacoxia – Piracicaba
Grupo Curupira – São Bernardo do Campo
Grupo DaCuia Teatro de Bonecos – Americana
Grupo de Teatro Território – Mogi Mirim
Grupo Di Atus – Santa Barbara d'Deste
Grupo Engasga Gato – Ribeirão Preto
Grupo Fogo Fatuo – Hortolândia
Grupo Fora do Sério – Ribeirão Preto
Grupo Matula Teatro – Campinas
Grupo Mayah – Piracicaba
Grupo Metamorfaces – Mairinque
Grupo Mosca na Sopa – Sorocaba
GTI - Grupo Teatro do Imprevisto – São José dos Campos
GTT - Grupo Teatral Ta'lento – Americana
Laura Kiehl Lucci – TUSP Piracicaba
Levante Cultura – Movimento Apartidário pela Transformação da Política Pública Cultural de Campinas
Nativos Terra Rasgada – Sorocaba
Nécessaire Coletivo Teatral – Piracicaba
Núcleo de Fotografia de Campinas (NUFCA) – Campinas
Núcleo Teatral Opereta – Poá
Maria Tornatore – Santos
Miriam Vieira - Santos
Movimento Cultural Brincantti – Arthur Nogueira
Ogawa Butoh Center – São Simão
Circo e Teatro de Rua Os Mamatchas – Presidente Prudente
Os Pregadores do Riso – Araçatuba
Outros Rumos – Santos
P.P.P.C. – São Caetano do Sul
Ponto de Cultura Rio Claro Cidade Viva – Rio Claro
Ponto de Cultura Casa das Artes – Ribeirão Preto
Projeto Vagalume – Pindamonhangaba
Sibipiruna Pontão de Cultura – Ribeirão Preto
Sidneia Tavares – Sorocaba
SIM Cultura – Campinas
Teatro de Teatro – São Vicente
Trupe Olho da Rua – Santos
Trupe Ortaética de Teatro Comunitário – SP/Guarulhos
Trupe TÁ-DÁ! – Rio Claro
Osasco, 07 de julho de 2013.
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