10 anos de MTR/SP
Adailtom
Alves Teixeira[1]
No
dia 03 de novembro de 2003 foi realizado a I Overdose de Teatro de Rua,
marcando o início do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP). A ação
foi a forma encontrada para mostrar as produções dos grupos e chamar a atenção
do poder público para essa modalidade teatral. Assim, antes mesmo de viradas
culturais, os artistas de teatro de rua ocuparam o Boulevard da Avenida São João, no centro da cidade de São Paulo
apresentaram seus espetáculos por mais de 12 horas seguidas.
Naquele
momento, além de chamar a atenção do poder público, os grupos teatrais de rua
chamavam a atenção também da imprensa, já que não tinham nenhum espaço para
divulgarem seus trabalhos e como para o poder público o que contava era que os
mesmos tivessem saído ou não em determinados jornais, tornava-se um ciclo
vicioso: sem história com a imprensa, sem reconhecimento. Artistas teatrais de
outros espaços também não viam com bons olhos os teatristas de rua. Dessa
forma, era uma “pedrada” para três coelhos. E deu certo. Afinal, se não havia
produção ou se não existiam – como se escutava a época – como era possível
realizar uma programação tão extensa e tão diversificada? Quinze grupos
participaram da I Overdose e depois vieram mais quatro.
Isso
tudo, em certo sentido é passado. Hoje são muitos os grupos que tem ocupado as
ruas, mesmo quem não fazia teatro de rua descobriu as possibilidades dos
espaços abertos para se expressarem. Que bom! Bom para a cidade e para a
população, pois esse é o espaço mais democrático que há. Nada prende o
espectador de rua, a não ser o interesse pela obra.
O
MTR/SP fez diversas Overdoses de Teatro de Rua, debates, seminários, publicou a
revista Arte e Resistência na Rua e
sempre lutou por políticas públicas de cultura. Seus integrantes participaram
também da criação da Rede Brasileira de Teatro de Rua, que hoje, na categoria
teatral, é o único movimento organizado nacionalmente. Além disso, o MTR/SP
realiza desde 2006 a Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, que sempre primou,
seja em sua programação e na escolha dos homenageados, por pessoas e coletivos
que tem feito resistência cultural, como o próprio Lino Rojas que dá nome à
Mostra. Bem como César Vieira e Teatro Popular União e Olho Vivo, Ilo Krugli e
o Vento Forte, Movimento Popular Escambo Livre de Rua, Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco, entre outros.
O
MTR/SP surgiu no bojo de politização no meio cultural puxado pelo Movimento
Arte Contra a Barbárie no fim dos anos 1990 e de lá pra cá, muitos foram os
coletivos que foram criados e que acabaram, mas o MTR permaneceu, pois sua
tônica é a solidariedade. Apesar de ter começado na capital logo se espraiou
pelo estado chegando ao interior, litoral e Grande São Paulo.
As
Overdoses não são mais realizadas, mas a Mostra de Teatro Lino Rojas esse ano
chega a sua oitava edição e acontecerá em dezembro próximo de 03 a 07 e
ocupará, mais uma vez, o Boulevard da
Avenida São João no centro de São Paulo e terá como tônica rever a história
desses 10 anos de resistência do MTR/SP. Que venham outras tantas décadas.
Publicado originalmente no Brasil de Fato edição 559, p. 12.
[1]
Ator, diretor de teatro; mestre em artes pelo Instituto de Artes da Unesp.
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