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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Das impossibilidades de políticas públicas permanentes para a Cultura

A liberdade não é uma escolha entre vários possíveis, mas a fortaleza do ânimo para não ser determinado por forças externas e a potência interior para determinar-se a si mesmo. A liberdade, recusa da heteronomia, é autonomia. Falarei quando minha liberdade determinar que é chegada a hora a vez de falar." (Marilena Chaui)

São várias as ironias do destino quando observamos o cenário das políticas públicas específicas para a área da cultura em nosso país. Não sou cientista social ou político, mas quero aqui propor um exercício muito simples: contrapor teoria e prática. A PEC 150/2003, parece esquecida na Câmara Federal, mas alguns apontamentos podem ser úteis no momento em que se aproxima a III Conferência Nacional de Cultura, aliás, alguém aí têm informações sobre a implementação das propostas das duas primeiras conferências, seja no nível nacional, estadual ou municipal? Não! Na cultura, políticas públicas permanentes parecem algo tão impossível quanto derreter neve usando um machado.                                                      

A proposta de acréscimo do artigo 216A à constituição brasileira é definitivamente urgente, tornar a cultura direito básico de todo cidadão e estabelecer percentuais mínimos de investimento para as esferas municipais (1%), estaduais (1,5%), e federal (2%) é o mínimo que se espera de um estado que não é criador de cultura, mas que mantém seu papel no fomento, no incentivo, e na formulação de políticas públicas para o setor, e isso requer uma coisa que os políticos parecem não serem capazes: abandonar qualquer pretensão política em prol de um bem  quantitativo e não qualitativo e isso meus amigos não dá voto, e é isto que move a descontinuidade, e falta de coesão da maioria dos gestores públicos nas pastas de cultura .             

Podemos inclusive afirmar que a PEC/150 bebe direto da fonte desbravada por Marilena Chauí na época em que a mesma esteve à frente da Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo. Chauí disseminou e aplicou, sem rodeios e sem interesse em futuras aventuras políticas, o conceito de cidadania cultural, pena que alguns gestores do PT pareçam não ter compreendido de fato que este conceito não opera na manutenção de distinções pífias entre periferia e centro, entre cultura erudita e popular, entre negros e brancos.  Operar neste nível de discussão é manter a cultura a serviço de meras articulações políticas, é fazer agitação e politicagem em detrimento do que de fato é importante: ações estruturantes. Basta ver que a primeira luta de Chauí foi em torno da ampliação da Biblioteca municipal. Operar em outros níveis de discussão pode nos levar a loucura de aplaudir ou vaiar prisões de políticos envolvidos em casos de corrupção sem nos atentarmos ao problema mais gritante desta situação: a necessidade de que os políticos renovem não apenas suas táticas de articulação interna, mas sua relação com a sociedade civil. Tudo se torna muito complicado quando apoiamos menos recursos para a cultura, e para piorar usamos como desculpa, investimentos maciços em apenas um equipamento cultural que não desenvolve ações culturais estruturantes, e atualmente, para piorar nem é visto como potência para isto – o pior cego é o que não quer ver, e a pior desculpa a falta de autonomia! Faca de dois gumes que deixa um hiato entre teoria e prática: onde está a cidadania cultural? No uso de uma desculpa da aplicação de verbas da gestão anterior no teatro municipal? Justificando a covardia de um gestor que não briga por mais verbas para a Cultura? Somos contingenciáveis? Estão mantidas as velhas e perversas táticas de partidos políticos que não buscam outra coisa senão a manutenção do poder, seja em falsas e burlescas conferências de cultura, seja na falta de escrúpulos na busca do voto favorável. É. A situação é complexa. Talvez seja mesmo mais fácil derreter neve usando um machado...

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Recomendo a todos, para aprofundarmos a reflexão, à leitura desta entrevista com Chauí http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/transcricao_marilena_chaui_1297189488.pdf além de seu maravilhoso livro Cidadania Cultural O Direito à Cultura publicado pela editora  Perseu Abramo. 


Uilson Júnior Francisco Fernandes é mestre em Filosofia e professor substituto na Universidade Federal de Uberlândia – membro do Conselho Municipal de Política Cultural – ator e produtor da Trupe Tamboril de Teatro de Uberlândia-MG.  E-mail para contato uilson_ufu@yahoo.com.br

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