Adailtom Alves Teixeira[1]
A arte teatral é coletiva por definição.
Ninguém faz teatro sozinho, mesmo em monólogos existe sempre uma pequena equipe
auxiliando o ator. Em sua essência o teatro pressupõe o coletivo, já que essa
manifestação artística só ocorre quando um ator ocupa um espaço e se relaciona
com o espectador.
Para além dessa proposição inicial, existe um
teatro praticado Brasil a fora chamado de teatro de grupo, isto é, pessoas que
se juntam para expressarem seus desejos, angústias e críticas por meio da arte,
levando diversão, lazer e reflexão. Sem dúvida o que tem sido produzido de mais
interessante nos últimos 60 anos, sem exagero, vem sendo realizado pelo teatro
de grupo, e não só em nosso País. E é possível afirmar que só cresce o número
de coletivo teatrais, que vem popularizando o teatro, ainda que nunca tenha
sido uma arte de massas no Brasil.
Néstor García Canclini em seu livro Arte popular y sociedade em América Latina,
traduzido por aqui como A socialização da
arte, afirma que o teatro, durante muitos séculos foi uma arte popular e
apresenta algumas experiências que, mais que levar arte ao povo, possibilita
que se apropriem dos meios, das técnicas, para que eles próprios façam teatro.
Eis aí uma tarefa ainda atual e muitos são os grupos preocupados em permitir
não só o acesso ao teatro, mas também se preocupam em fornecer os meios para
que mais pessoas possam praticar essa arte. O jogo teatral faz parte do ser
humano e pode ser praticado e assistido por todos e todas, por isso foi
utilizado durante a Revolução Russa, em uma sociedade de maioria analfabeta.
Para Canclini, “os grupos mais avançados são
os que descobriram que a formação teatral inclui, além da aprendizagem técnica,
a análise das condições sócio-econômicas e comunicacionais do meio em que se
procura operar, suas necessidades básicas e os conflitos que impedem
satisfazê-las”. Esses elementos permite saber qual teatro necessário para cada
realidade. Dialogar com o lugar, o particular, sabendo que este reflete e
refrata o universal.
Teatro é antes de tudo comunicação, daí a
importância dos procedimentos, vocabulários, entre outros. Muitos são os grupos
que se apropriam de um vocabulário e de técnicas populares, visando,
justamente, se tornarem mais efetivos em sua relação com o público. Dessa forma
se colocam em outra disputa, pois, ao se apropriarem dos “códigos populares”,
passam, muita das vezes, a sofrerem preconceitos, já que essas técnicas não são
reconhecidas pelos centros de produção de saberes. No entanto, muito são os
exemplos bem sucedidos. O próprio Brecht se apropriou de técnicas populares, assim
como os Centros Populares de Cultura, o Teatro Popular União e Olho Vivo –
grupo mais antigo do Brasil, com 47 anos de existência, tem como pressuposto básico
as matrizes populares, como a capoeira, o bumba-meu-boi e outros.
No Brasil, muitos são os coletivos com mais
de 30 anos, como o Tá na Rua (RJ), Oi Nóis Aqui Travéiz (RS); dezenas os que
têm mais de 20 anos, como o GPT (AC), Pombas Urbanas (SP); centenas com mais de
10 anos, como Nu Escuro (GO), Teatro de Caretas (CE) e outros tantos que nascem
e morrem a cada dia por diversos problemas. Entretanto, em geral, um grupo não
morre, ele se multiplica, pois teatro é junção e diáspora; quando um grupo se acaba
geralmente dois ou três surgem.
De qualquer forma, é importante destacar que,
apesar da produção hegemônica por parte do teatro de grupo, a exceção do
Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, não existe políticas
públicas de cultura destinadas a essa forma de organização e de produção
artística, residindo aí uma das grandes dificuldades em se perpetuarem. Ainda
assim, os coletivos existem e resistem fazendo arte teatral nos mais diversos
rincões do Brasil, fazendo brotar flores no asfalto.
Texto produzido para o Brasil de Fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário