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quarta-feira, 26 de agosto de 2015
David Harvey e a classe operária
Boa reflexão de David Harvey sobre a classe operária nos dias de hoje, bem como sobre as cidades.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
VI Corredor Cultural de Teatro de Rua 2015
No de 2015 a Oigalê comemora 16 anos de estrada e trabalho continuado. Nesse período, um dos projetos desenvolvidos de forma sistemática é o Corredor Cultural de Teatro de Rua. Executado de forma simples e otimizada e com baixo custo orçamentário, oportuniza gratuitamente apresentações, oficinas e bate-papos sobre o teatro de rua com a população das cidades contempladas.
![]() |
Giancarlo Carlomagno |
A proposta do ano de 2015 é uma circulação de Porto Alegre/RS até São Paulo, passando por Criciúma, Joinville, Curitiba, Maringá, Jacarezinho e Santos.
Os Corredores Culturais têm provado que trabalhando de forma organizada e integrada entre as cidades, regiões e instituições, consegue-se mais economia, dinamismo e versatilidade, oferecendo atividades culturais e proporcionando um maior intercâmbio com outros grupos, assim como com a população, por um custo muito menor. Não se trata apenas de uma turnê, de um circuito artístico, mas sim de uma vivência e convívio do artista com a estrada, as regiões, as cidades e as pessoas.
O que:
VI Corredor Cultural de Teatro de Rua 2015
Onde:
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo
Quando:
PROGRAMAÇÃO
Rio Grande do Sul
O Baile dos Anastácio
Dia 22/8 sáb 12h Parque da Redenção Porto Alegre/RS
Santa Catarina
O Baile dos Anastácio
Dia 25/8 ter 12h30 Praça Nereu Ramos - Centro Criciúma/SC
Dia 26/8 qua 16h30 Praça Nereu Ramos - Centro Joinville/SC
Paraná
O Baile dos Anastácio
Dia 27/8 qui 12h30 SESC da Esquina Curitiba/PR
Oficina de Espaço, Movimento e Ritmo
Dia 28/8 sex 19h SESC Maringá/PR
O Baile dos Anastácio
Dia 29/8 sáb 10h30 Festival Ciranda das Artes
Av. Prudente de Moraes, ao lado estádio Willie Davis Maringá/PR
Dia 01/9 ter 10h XI EnCena 2015
Dia 01/9 ter 20h XI EnCena 2015
São Paulo
O Baile dos Anastácio
Dia 05/9 sáb 18h FESTA – Festival Santista de Teatro
Mais informações sobre O BAILE DOS ANASTÁCIO:
Fotos em alta resolução:
Clipe do espetáculo:
Espetáculo na íntegra:
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
NOTA DE REPÚDIO
DESACATO AO ARTISTA / PALHAÇO TICO BONITO
A Companhia Estável de Teatro de São Paulo-SP repudia com veemência a prisão arbitrária sofrida pelo palhaço Tico Bonito, nome artístico do cidadão Leônides Quadro, enquanto se apresentava na rua, no dia 14 de agosto de 2015, na cidade de Cascavel, no Paraná. Esta ação, infelizmente naturalizada em quase todo o país, fere o artigo 5º, inciso IX da Constituição Federal que assegura a liberdade de expressão artística e mata o direito do cidadão de exercer o seu trabalho crítico com dignidade.
Exigimos que o poder público local realize urgentemente a abertura de inquérito para apurar o abuso de autoridade na abordagem e detenção do palhaço, que foi detido quando fazia sua apresentação em uma praça da cidade para um público formado em grande parte por crianças. Leônides Quadro foi acusado de desacato à autoridade apenas por se posicionar crítica e artisticamente quanto à função da Polícia Militar, no que está dentro de seus direitos assegurados pela Constituição.
Nos solidarizamos com o artista contra essa arbitrariedade e continuamos firmes com nosso trabalho que tem se tornado cada vez mais nossa principal ferramenta de resistência, luta e militância.
Atenciosamente.
Companhia Estável de Teatro
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Oigalê!
Amanda Bueno[1]
Oigalê
é um termo usado no Sul do Brasil para exprimir admiração. E foi isto que a
Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais, criada em 1999 no Rio Grande do Sul, deixou
estampado na face do público na penúltima noite do 8º Festival Amazônia Encena
na Rua, que aconteceu entre os dias 22 a 26 de julho de 2015 na Praça das Três
Caixas d`Água em Porto Velho – RO, durante a apresentação do espetáculo Deus e
o Diabo na Terra da Miséria.
O espetáculo conta a estória de Miséria, um ferreiro, que ao trocar a ferradura
de um cavalo, ganha três pedidos como pagamento pelo serviço. Os donos do
cavalo, Deus e São Pedro, aconselharam várias vezes que ele utilizasse os
pedidos para ter a salvação divina. Com comicidade de cunho filosófico e
teológico, ele usa os pedidos para coisas que as divindades julgam banais, proibindo-o
de ir viver no céu após sua morte. Mais tarde, recebe a visita da “Diaba”, com
quem faz um pacto que lhe garantem dinheiro e viagens pelo mundo. Miséria, por
enganar, inúmeras vezes, a “Diaba”, no decorrer da peça, é proibido de ir ao
inferno. Condenado, assim, a “miséria” a ficar e vagar pela terra.
Com pernas de pau, personagens expressivas,
uma sanfona e sotaque característico, os gaúchos mantiveram um espetáculo muito
bem ensaiado, cheio de cores e improvisações que conectou o público, já
cativado, ao regionalismo vindo do sul do país.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Gigantes, pequenos e a direção do pescoço
Daniel Graziane[1]
Uma noiva desce de rapel
pelo prédio no Centro de Porto Velho. Depois um homem. Seria um noivo?
Motoristas querem seguir o fluxo diário. Buzinas. Celulares brotam dos bolsos e
fotos instantaneamente vão parar nas redes sociais. O prédio gigante e o corpo
minúsculo diante da estrutura de concreto. Perigo calculado ou não? Ao menos o
pescoço das pessoas modifica a direção. Olhar para o alto. Olhar para o
edifício desamparado.
Assim começa Das Saborosas Aventuras de Dom Quixote de La Mancha e Seu
Escudeiro Sancho Pança: um capítulo que poderua ter sido do Grupo
Teatro que Roda, Goiás. O homem de terno pode ser um trader do mercado financeiro que acaba de perder todo seu dinheiro
aplicado nas ações da Petrobrás. Ele caça alguém. Está a procura de algo. Seria
a sua parte? Parte no quê? Se esse homem está bem ou não é difícil saber.
Lembro-me de jovens viciados em crack
que frequentam a região em que estamos. Penso nas pessoas que foram afetadas
por inúmeros escândalos em nosso país.
O texto às vezes se perde,
às vezes se quebra, às vezes alucina. Mas alucinaria o texto mais do que a
cidade? São fragmentos de uma história. Vou preenchendo tudo isso.
A cena navega, as noivas
imprecisas. O homem e seu terno em
frangalhos une-se a um catador de sucata que se diz cansado de promessas. O
catador entre uma vida sem ilusões e uma vida sem esperança parece querer mais
uma vez acreditar em algo. Caso ele siga Dom Quixote poderá ganhar uma ilha. A
cidade ilha aos poucos vai deixando de lado suas fronteiras e a peça que era só
um item na cidade acaba por se misturar e arrisca-se virar uma coisa só.
Improvisos acontecem e de
inicio fazem me pensar que o que vejo não foi combinado. Uma luta na Av. Sete
de Setembro, horário de rush. É aquilo uma briga que aconteceu por acaso ou são
atores? Começo a pensar no Show de Truman
e sua ilha. Começo a refletir sobre a realidade e sobre a narrativa criada
pelos gigantes da mídia. O que é real e o que não é? Ao redor já não sei o que
é personagem e o que não é. Será que eu sou uma personagem? Será que sou um
fruídor de teatro naquela rua? Será que estou criando uma narrativa ou
participando da história?
Um trator. Um carro de
policia. Mototaxistas da cidade. Poderíamos pensar que esses são elementos de
um espetáculo de gigantes. Poderíamos pensar que tudo isso é róliúdiano demais.
Poderíamos pensar que o final onde João Quixote é preso foi tú mãtchi. Mas
penso que entre gigantes aparelhos e pequenas emoções esse espetáculo assalta o
aparelhamento do espetacular e faz com que o humano que as vezes se sente
pequeno se sinta grande. Se sinta parte. Se sinta menos ilha e mais cavaleiro.
Se sente mais cidadão dessa cidade e mais perto de um lugar que parece tão
longe das janelas dos carros. Ao fim do
espetáculo João Quixote sai preso e nós ficamos livres por policiais numa
operação espetacular. E toda a força do espetáculo deixa ainda uma inquietação:
Sancho Pança o catador de sucata fica sem ver sua promessa cumprida mais uma
vez.
Essa foi sua parte, qual foi
a nossa? Mudamos não somente a direção do pescoço, mas creio que podemos ter
mudado uma forma de ver a cidade e de ver as relações que nela existem.
Teatro de rua é coisa de mestre
Esquenta
o tambor, aperta a perna de pau, “calma, concentração, foco, música, jogo,
alegria...” “te realizo três pedidos!”, e um presente cheiro de erva mate para
não nos deixar esquecer que o grupo gaúcho Oigalê vai entrar em cena na quarta
noite do VIII Festival Amazônia em Cena na Rua.
O
espetáculo “Deus e o Diabo na Terra de Miséria”, que narra a história de um
gaúcho ferreiro que recebe a visita de São Pedro e do Nosso Senhor que lhe
concede três desejos, os mesmos, a priori, não fazem muito sentido, mas ao
longo da narrativa são usados para ludibriar os diabos que vão aparecendo para
lhes buscar. Por enganar Deus e o Diabo, o ferreiro Miséria é impedido de
entrar no Céu e\ou no Inferno. Contudo, se diz que é por esse motivo que a
miséria perambula pela terra.
Esta
fábula é contada pelo grupo desde 1999, ano que também nasce o grupo residente em
Porto Alegre. Com muita maestria os atores vão costurando as ideias e seduzindo
os espectadores com muita música, na qual, esta assume uma função épica importante,
contando o que irá acontecer. De forma engraçada e envolvente os atores, que
têm uma potência vocal impecável, vão revelando e manipulando suas técnicas
aperfeiçoadas do estar na rua. São corpos vibrantes, potentes que conversam com
o espaço aberto, o espetáculo é uma explosão de energia, que foi sendo
reverenciado por vários aplausos em cena aberta. Em um conjunto equilibrado de quatro
atores “Miséria corre o mundo” perfumando as cidades com muita alegria e mate
gaúcho.
[1] Graduada
em Licenciatura em Teatro pela UFPB, mestrado em Artes Cênicas pela UFRN, faz
parte do Grupo de Teatro Quem Tem Boca é Pra Gritar, é estudante da
especialização em Arte, Educação e Sociedade, pelo CINTEP–PB, é articuladora da
Rede Brasileira de Teatro de Rua, foco de pesquisa preparação do ator para rua.
domingo, 16 de agosto de 2015
Quem está na chuva é pra se molhar
Júnior Lopes[1]
Foi
debaixo de uma tímida chuva que no dia 24 de junho de 2015 na Praça das Três
Caixas d’água, que São Pedro e o público porto velhense receberam o grupo
Tirana Cia de Teatro de Belo Horizonte. No entanto, a chuva não foi motivo para
que o público se dispersasse. Durante o acolhimento dos espectadores, com
direito a dança da chuva, foi se formando uma roda para a apresentação da peça O Caboclo Zé Vigia, no Amazônia Encena
na Rua.
A
Tirana Cia de Teatro nasceu no Teatro Universitário da UFMG em 2008 e de acordo
com a Cia, desde a sua criação, o grupo tem como objetivo aproximar a cultura
popular das artes cênicas, especificamente, o teatro de rua. Assim, apostam em
um “teatro aberto” aproximando os espectadores para próximo de si e assim,
investindo no contato direto e intenso com o público. Este objetivo fica claro
desde a temática da peça, trazendo personagens da cultura popular do cordel,
que de uma maneira poética e ao mesmo tempo cômica vai costurando temas
polêmicos como traição, morte e crime passional.
Outro
ponto de destaque diz respeito à disposição do público em roda, onde atores e
atrizes estavam bem próximos, que sem uso de microfone, nem grandes estruturas
de cenário, vão cativando o público, cada vez mais envolvido com a história.
Pipocas,
algodão doce, pastéis e churros não conseguiram tirar a atenção da peça e muito
menos a chuva intimidou o público, já que quem estava na rua acabou se molhando
com a doçura e simplicidade do espetáculo.
[1] Professor do Curso
Licenciatura em Teatro na Universidade Federal de Rondônia; doutorando na
Universidade Federal da Bahia.
Um mistério anunciado
Júnior Lopes[1]
A
peça o Mistério do Fundo do Pote ou de Como Nasceu a Fome foi
apresentada no Amazônia Encena na Rua pelo grupo Imaginário, de Porto Velho no
dia 26 de julho de 2015. O texto é de Ilo Krugli, argentino naturalizado
brasileiro, fundador do grupo de Teatro Ventoforte e um dos pioneiros em arte
educação no Brasil que, com uma dramaturgia própria, é considerado divisor de
águas no que diz respeito ao teatro para jovens e crianças.
O
grupo Imaginário, dirigido por Chicão Santos, tem um forte histórico de teatro
em Porto Velho e é destaque com peças como Filhas da Mata, Ferrovia dos
Invisíveis, Mulheres do Aluá entre outros. O Mistério do Fundo do Pote já havia
sido montada em 2002 pelo Grupo, e naquele contexto, a direção foi assinada pelo
professor, ator e diretor Narciso Telles. Um dos destaques da primeira montagem
foi a imersão em uma leitura regional da obra, em que objetos, cenário e
figurino foram confeccionados por artistas locais e crianças do centro de
ensino especial (CEME) utilizando como matéria prima a juta, fibra da Amazônia.
Na montagem de 2015, o cenário foi estabelecido por um
andaime e mesmo o grupo tentando uma aproximação com o público, as
arquibancadas da praça acabaram prejudicando esta proximidade. Acredito também
que a atenção às crianças, maioria que estava ao redor do cenário, não foi
explorada pelo elenco. Apesar da preocupação do grupo em se apresentar em
círculo e repetir as falas em vários pontos da roda, o número de espectadores
foi muito grande e a arena designada para o público impossibilitou que a poesia
da obra e o mistério anunciado do fundo
do pote fosse desvendado, e muitos que ali estavam, acabaram indo embora sem
compreender como havia nascido a fome.
[1] Professor do Curso
Licenciatura em Teatro na Universidade Federal de Rondônia; doutorando na
Universidade Federal da Bahia.
sábado, 15 de agosto de 2015
Pássaros Engaiolados
Fundada
em 1981 pela diretora Lígia Veiga, a Grande Companhia Brasileira de Mysteiros e
Novidades, desenvolve suas atividades na zona portuária do Rio de Janeiro,
realizando projeto de formação de jovens, moradores da comunidade local, com
pesquisa cênica fundamentada nas pernas de pau, musica e dança popular.
A companhia
traz ao Festival Amazônia Encena na Rua o espetáculo O Uirapuru, que teve sua
estreia em dezembro de 2014, a encenação foi o ultimo trabalho apresentado na
primeira noite do festival e teve seu inicio sem nem mesmo ser apresentado pela
palhaça Cafuxa, cerimonialista do evento.
Veio
acompanhado por problemas técnicos, microfonia, que se seguiram por toda a
apresentação. E em sendo esta, a história de um pássaro, o uirapuru, os ruídos
remetiam a um, ferido ou irritado, que gritava, querendo a liberdade, oprimindo
os outros pássaros cênicos, personagens do espetáculo, que também lutavam por
se libertar da gaiola de ferro e da gaiola do espaço cênico.
Onde
se esperava ouvir os sons da natureza, imperou o ruído mecânico impetrado pela
cidade, pelo homem, pela opressão do encaixotamento do teatro de rua, observado
do alto pelas Três Caixas D’água, que também são de ferro.
Elcias
Villar - Diretor
de Teatro
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Intromissões entre olhares dispersos
Cecília Lauritzen J. Campos[1]
Em um fim de tarde, finalizando o VIII
Festival Amazônia Encena na Rua, a Cia. Strondum (MG) compartilhou com o
público das quadras que envolviam a praça das três caixas d’água seu espetáculo
Intro-missão. A companhia atua desde
2003 em Uberlândia, pesquisando a linguagem da dança em suas relações com
outras áreas como filosofia e artes visuais, traço da multiplicidade que
compõe, igualmente, seus sete integrantes.
O espetáculo se realizou de modo itinerante,
realizando um percurso pelos arredores da praça que havia sido o local de
início e divulgação. Utilizando-se de bombas, fogos de artifício, ternos,
máscaras, um carro de supermercado e muita agilidade, os performers dançavam pelas ruas e calçadas, interrompendo e
intrometendo-se no fluxo de carros e pedestres, mesmo que tranquilo, daquele
domingo à tarde.
As cenas ou quadros aconteciam formados por
duplas e trios espalhados ocupando diversos planos de visão, permitindo inclusive
que o público se observasse observando. Ao cruzar uma praça maior – constituída de uma atrativa feira que vendia
comidas e artesanatos típicos – o espetáculo viu-se disperso pela dispersão dos
próprios espectadores. Uma interrupção para o tacacá, que bem salgado fez
retomar o olhar, agora adormecido pelo jambú para a próxima quadra que vinha.
Praticamente na
suposta reta final do percurso, uma carreata religiosa atravessa o espetáculo
com suas buzinas e som alto, compondo o cenário transgressor que ocupava a rua
vagarosa de domingo. O espetáculo induz uma volta ao ponto inicial, a dispersão
dessa vez é maior, todos acreditaram que era o fim. Minutos depois, já
distraídos pelas próximas atrações que se anunciavam, ouve-se/vê-se vestígios
de fogos numa rua próxima. A impossibilidade do todo se concretiza e fica a
dúvida: quando termina?
[1] Cursou em 2013 o Mestrado em Artes Cênicas pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente está no Doutorado em
Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Participa do Coletivo Mapas
e Hipertextos, investigando as áreas da dança, do teatro e da performance em
suas possíveis relações.
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
A respeito de cativar
Cecília Lauritzen J. Campos[1]
Desde 1996 o grupo "Mamulengo
sem fronteiras" (DF) desenvolve seu trabalho, cujo surgimento se deu a
partir da convivência com o mamulengueiro e mestre Chico Simões - Mamulengo
Presepada. Coordenado pelo brincante Walter Cedro, o grupo pesquisa e dá vida a
uma das importantes manifestações populares brasileiras, o Mamulengo. O
espetáculo "Exemplos de Bastião" apresentado na noite de 23 de julho
de 2015 na praça das três caixas d'Água em Porto Velho - Rondônia, fez parte da
programação que integrava o VIII Festival Amazônia Encena na Rua.
A peça conta as aventuras de Bastião
em busca de conquistar o amor de Rosinha do Bole Bole e a permissão de seu pai,
Capitão João Redondo, para selar um compromisso. Na companhia de sua burrinha
Relâmpago, Bastião enfrenta situações adversas, combatendo monstros e bichos,
mas sobretudo, deixando explícito em seus atos sua honestidade e valentia.
O espetáculo que havia antecedido a
apresentação do Mamulengo havia deixado boa parte do público, em especial o
infantil, em estado de euforia. A disposição das três arquibancadas instaladas
pela organização do festival dificultou, em certa medida, uma parcela do
público que não conseguiu espaço com visibilidade no chão da praça para
assistir ao espetáculo. No entanto, em poucos minutos de espetáculo havia se
instaurado um ambiente novo, que diferia da euforia proposta pelo momento
anterior, e que atravessava as possíveis dificuldades de visualização das cenas.
Este ambiente instaurado passou a
estabelecer relações que engajaram o público na conjuntura dos universos que
ali coexistiam, do lado direito o universo de Bastião e do lado esquerdo o
universo dos músicos-tocadores-brincantes-atuadores. Nesse sentido, o
espetáculo apresenta com maestria o elemento musical para além da sua função de
ambientação, incluindo-o como elemento dramatúrgico intrínseco à narrativa.

[1] Cursou em 2013 o Mestrado em Artes Cênicas pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente está no Doutorado em
Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Participa do Coletivo Mapas
e Hipertextos, investigando as áreas da dança, do teatro e da performance em
suas possíveis relações.
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