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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Arte e política - L. Trotski

Arte e política (excertos)

Leon Trotski, 1938

1. A arte é uma expressão da necessidade humana de uma vida completa e harmoniosa, isto é, da necessidade dos maiores bens que a sociedade de classes nega à maioria. É por isso que o protesto contra a realidade, seja ele consciente ou inconsciente, ativo ou passivo, otimista ou pessimista, sempre faz parte de uma obra de arte verdadeiramente criativa.

2. O declínio da sociedade burguesa significa uma exacerbação insuportável das contradições sociais, que inevitavelmente se transformam em contradições pessoais, trazendo à tona uma necessidade cada vez maior de uma arte liberadora. Mais que isso, o capitalismo declinante é inteiramente incapaz de oferecer condições para o desenvolvimento de tendências artísticas que correspondam, ainda que minimamente, à nossa época. Ele teme supersticiosamente cada nova palavra, pois agora não se trata mais de reformas do capitalismo, mas de vida ou morte. As massas vivem oprimidas. A boemia oferece uma base social muito limitada. Por isso tendências novas assumem um caráter cada vez mais violento, alternando esperança e desespero.

3. A arte não pode fugir à crise, nem se isolar. A arte não pode se salvar sozinha. Ela vai apodrecer inevitavelmente – como a arte grega apodreceu sob as ruínas de uma cultura fundada sobre a escravidão – a menos que a sociedade atual seja capaz de se reconstruir. Esta tarefa tem um caráter essencialmente revolucionário. É por isso que a função da arte em nossa época é determinada por sua relação com a revolução.

4. Arte, cultura e política precisam de uma perspectiva nova. Sem ela, a humanidade não se desenvolverá. Mas nunca as perspectivas foram tão ameaçadoras e catastróficas como agora. Por isso o pânico é o estado mental predominante da intelligentsia desnorteada.

5. Nunca uma idéia progressista começou com uma "base de massas", ou não seria uma idéia progressista. Uma idéia só alcança as amplas massas em seu último estágio – desde que seja uma resposta às necessidades progressistas. Todos os grandes movimentos começaram como "dissidências" de movimentos anteriores.

6. Quando uma tendência artística esgota as suas forças criadoras, dissidências criativas se separam dela por terem a capacidade de olhar o mundo com novos olhos. Quanto mais os pioneiros ousam em suas idéias e ações, mais acidamente se opõem à autoridade estabelecida e apoiada em uma "base de massas" conservadora, mais os conservadores, céticos e esnobes tendem a ver os pioneiros como excêntricos impotentes e "dissidentes anêmicos". Mas, em última análise, errados são os convencionais, céticos e esnobes – e a vida os ultrapassa.

7. Um partido verdadeiramente revolucionário não pretende nem é capaz de assumir a tarefa de "dirigir" e muito menos de comandar a arte, tanto antes quanto depois da tomada do poder. Assim como a ciência, a arte não está à espera de ordens; ao contrário, por sua essência, não as tolera. A criação artística tem suas próprias leis – mesmo quando está conscientemente a serviço de um movimento social. A verdadeira criação intelectual é incompatível com mentiras, hipocrisia e espírito conformista. A arte só poderá ser uma forte aliada da Revolução na medida em que permanecer fiel a si mesma. Poetas, pintores, escultores e músicos encontrarão sozinhos os seus próprios métodos e modos de se aproximar dela, se a luta pela liberdade das classes e povos oprimidos dispersar as nuvens do ceticismo e do pessimismo que cobrem o horizonte da humanidade.

8. "Independência" e "liberdade" representam um valor real. Por isso é necessário defendê-las com a espada, ou pelo menos com um chicote na mão. Toda tendência artística ou literária nova começou com um "escândalo", quebrando a louça velha e respeitável, e desafiando muitas autoridades estabelecidas. Isto não acontecia só para fins de publicidade (que também contavam). O fundamental é que artistas e críticos literários tinham algo a dizer. Eles tinham amigos e inimigos, eles lutaram e assim demonstraram seu direito de existir.


"Art and Politics in our Epoch"
Seleção e tradução do inglês
Iná Camargo Costa

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