A Linguagem Autoritária de Zé Celso
Na estréia do seu blog, o sr. publica o texto "Libertemos a cultura de suas prisões", onde comparar o Movimento dos Trabalhadores da Cultura a Fascistas, à máfia, aos skin heads, à TFP, à Homofobia.
Isso é inaceitável.
O sr. entrou no meio de uma Assembléia, foi aplaudido, puxou uma ciranda na qual todos entraram e cantaram (com todo prazer mesmo interrompendo um momento importante), o sr. começou então um sermão cheio de provocações e... ficou bravo por que lhe responderam?
Por que discordaram do sr.?
Foi um som massacrante ouvir nosso refrão na cadência do seu samba?
Ninguém lhe expulsou nem ao seu coro.
Entraram e saíram quando quiseram.
No entanto, não somos seu coro.
Nem somos coro do Ministério da Cultura, que aliás estampa há dias em sua home page: Teatro Oficina é tombado pelo MINC...
Do outro lado, o site do Oficina há dias ostenta em sua home:
Ana de Hollanda assina tombamento do Teatro Oficina...
Difícil no caso saber quem faz coro a quem.
Nós não somos seu coro.
Mas comparar o movimento a fascistas, máfia, skin heads, à TFP, à homofobia?
Isso é inaceitável.
Tempos perigosos estes em que vivemos, em que tudo pode aparentar ser o contrário do que é. Assim como os iogurtes "saudáveis" espalham toneladas de embalagens plásticas pelo mundo, o "libertário" Zé Celso espalha o autoritarismo de sua linguagem pela internet.
Ele não debate nossas proposições, mas nos desqualifica totalmente nos adjetivos: linguagem autoritária.
Zé Celso nos chama de odiadores, mas o que dizer das palavras que usa contra nós? Por que tanto rancor? Só porque não aceitamos sua autoridade? Só para nos desautorizar?
A solidariedade que Zé Celso foi prestar ao movimento é da mesma natureza de quem oferece a um sem-teto um prato de sopa e um sermão. Nós queremos a sopa, mas não o sermão. Poderíamos conversar. Mas Zé Celso gosta de falar, mas não de escutar. Isso ficou bem patente em sua visita à ocupação da FUNARTE. Chegou e interrompeu uma assembléia porque tinha pressa. Fez sua performance-sermão. No momento em que respondemos às suas colocações, passamos a ser inimigos.
Zé Celso não é nosso Conselheiro. Será isso que o incomoda?
Zé Celso não é o único representante de Dioniso para nós. Podemos dançar, entrar em transe e nos rebelar sem ele. Ou podemos não fazer nada disso. Será que é isso que o incomoda?
Ou será que ele quer sequestrar a possibilidade de protesto apenas para si e seu grupo? Afinal, há bem pouco tempo, ele acusava a ministra Ana de Hollanda de burocratismo. Bem na estratégia morde-assopra, agora o Oficina afaga a ministra, já que conseguiu o tombamento do prédio público onde está sediado. E se junta ao coro de Antônio Grassi, presidente da FUNARTE, ao questionar os portões fechados durante a ocupação.
No caso, o diretor do Oficina e o presidente da FUNARTE usam em coro o mesmo raciocício torto que classifica uma greve de antidemocrática. Fechamos os portões por motivos tanto simbólicos quanto práticos. Simbólico: interromper o fluxo "natural" da ordem instituída, marcar um momento de exceção (como uma greve), e assim, impedir que nos vissem como mais uma "instalação" numa "residência artística". Prático: Na primeira ocupação da FUNARTE, em 2009, a polícia cercou o prédio e impediu a passagem de água e comida para dentro. Se a polícia resolvesse desocupar o prédio desta vez, como garantir nossa segurança e as instalações do prédio? E se houvesse tumulto? E se pessoas alheias ao movimento aproveitassem o período para depredar ou furtar?
O prédio da FUNARTE foi vistoriado após a ocupação, entregue como estava uma semana antes.
Por outro lado, cabe perguntar: os portões do Teatro Oficina estão abertos até que ponto? Não é um prédio público?
Quem sequestra a Cultura é o Mercado. E o Estado é usado para isso. Um dos mecanismos é a Lei Rouanet, que joga para a mão dos departamentos de marketing das empresas o poder de decisão sobre o que merece dinheiro. Assim "atendida" a Cultura, que se corte 2/3 das verbas de 2011 para o Ministério é irrelevante; que não haja políticas estruturantes, com dotação orçamentária própria prevista em lei, obrigando os governos que se sucedem no comando do Estado a apenas executá-las, é irrelevante. Isso parece menos importante para Zé Celso. O que interessa é nos atacar. É comparar o movimento a fascistas, máfia, skin heads, à TFP, à homofobia.
Em nome de quê? De que interesses? Por que tanto autoritarismo na sua linguagem, por que tanto ódio?
Danilo Monteiro
Integrante do Movimento dos Trabalhadores da Cultura
São Paulo, 3/8/2011
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Postado no blog:http://minhabarradeespacoquebrou.wordpress.com/2011/08/03/meu-querido-canibal/
Meu Querido Canibal.
E no quinto dia, um deus desceu à Nod e foi ter com os seus.
Os corações regorgizaram-se pois, eras atrás, esse mesmo deus ascendeu ao panteão brandindo sua espada flamejante contra um inimigo de seu povo. Ele pousou sobre Nod e entoou seus cânticos. O povo da cidade dos condenados prostrou-se e o louvou. Até que, em sua dança furiosa, o deus voltou sua espada contra aqueles que o louvavam.
A história do teatro brasileiro se confunde com a própria biografia do Zé Celso. Inventivo, questionador e polêmico. Apanhou da ditadura, perdeu amores e amigos para a barbárie e hoje merecidamente repousa ao lado da fonte de ambrosia do paraíso, desfrutando da tutela de parte de uma geração que deu testa à ditadura, mas que tomou para si a chave dos portões do jardim do Édem.
Após uma conturbada (e questionável) visita à ocupação da Funarte, Zé Celso redigiu uma carta aberta execrando os rebelados que infelizmente, ao contrário dele e dos seus eleitos, não tem a mesma liberdade e recursos para desenvolver e expandir a sua arte.
Meu querido canibal,
Como parte dos "infiéis" que ocuparam as instalações da Rua Northman 1058 fiquei lisonjeado pela atenção que você dispendiou à nossa rebelião a ponto de merecermos a postagem inaugural de seu blog. No entanto, venho por meio desta carta pessoal recomenda-lo a redigir postagens mais sucintas a fim de permitir menos contradições ou contestações.
Tente entender que nós da "esquerda cuecona" não desfrutamos do sortido e bem-afortunado leque de amizades que você e sua companhia dispõem. Nenhum de nós está a um telefonema de distância do seu amigo Silvio Santos, esse "bicho humano adorável" (como você mesmo se referiu a ele em sua postagem), da "presidenta" Dilma, do eterno candidato Zé Serra e as óbvias facilidades que essas amizades provêem.
Espero também que você compreenda que, essa sua maravilhosa e expansiva visão do mundo e de todas as coisas que nos cercam, nos é cerceada pelo intransponível muro das 'contas a pagar'.
Infelizmente as instituições financeiras também não aceitam a penhora nossos cuecões em troca de fundos para viabilizar as nossas produções. Não seria maravilhoso se entidades como o Pau e Lata (Mossoró – RN) ou os coletivos do interior do Rio Grande do Sul tivessem a oportunidade de manifestar a plenitude de suas capacidades artísticas?
A verdade é que todos precisamos cagar, mas não há papel higiênico pra todo mundo. Muita gente vai ter que limpar o cú com a blusa. Ou – como você deu a entender – com o cuecão.
Imagino que ainda hoje, muitas pessoas se enterneçam com a pintura do quarteto de cordas que toma de assalto a rua – como uma bolha de ar na bolsa d'água do caos – com direito a aquele chapéu mal acabado no chão reluzindo parcas moedas e cercados pelos efuzivos aplausos daqueles transeuntes sem rosto. Do maracatu que passa furtivo e rouba sem aviso a angústia das metrópoles ou da montagem de Bretch no meio da hora útil, cujo o texto há de deitar-se com o funcionário da Bovespa e tirar-lhe o sono por uma noite ou por uma vida.
Pura poesia.
Mas somos o país dos poetas de obras póstumas e, empacados na encruzilhada entre fazer arte ou fazer comida, não temos outra saída a não ser a vida dupla do artista analista de sistemas. Do artista funcionário de cartório. Do artista atendente do Outback. Todos devidamente formados pelas renomadas escolas de arte e da vida. Não lhes falta arte, lhes falta o mecenas.
Antes o que nos afligisse fosse a tal "pobreza de espírito", mas na verdade nossa pobreza é outra.
Por favor, eu imploro, não venha me dizer para nos "orgulharmos da gestão Lula, Gil, Juca, para sua estratégia MARAVILHOSA DE ERRADICAÇÃO DA POBREZA NO BRASIL". Porque alguns metros abaixo, no número 280 da mesma Rua Northman, a pobreza foi erradicada com a presença de um destacamento da polícia militar e de um oficial de justiça portando uma ordem de reintegração de posse. Nossa algazarra ainda causou algum alarde, mas a demanda deles é invisível e indigente. É pauta vencida nas empresas de mídia. Com sorte aquele arremendo de prédio deve pertencer à algum outro "bicho humano adorável" que há de transforma-lo em um espaço de arte para algum coletivo de sorte mediante a alguma publicidade positiva.
Mas com tanto pobre por aí, o que são algumas famílias desesperadas?
Com tantas montagens por aí qual a cultura que serve e que não serve?
Se você portar em seus cadernos algum grande plano generoso para nos ajudar a fazer das nossas vidas o que nos propormos a fazer, temos amigos em comum que sabem onde me achar. Mas se é pra limpar a bunda com café quente, nem me venha com essa xicrinha.
3 comentários:
Danilo, Fabrício, Adailton... menos, pessoal, menos... deixa o Zé Celso falar, entrar e sair, minha gente! O que pode engrandecer um movimento é justamente sua capacidade de assimilação-generosa-não-odiosa... sim, concordo com vocês: "tempos perigosos estes em que vivemos, em que tudo pode aparentar ser o contrário do que é..."
Saudações,
Paulo Barja - www.paulobarja.blogspot.com
Visando contribuir, remeto ao link abaixo:
http://www.sergiodecarvalho.com.br/?p=1299#more-1299
Prezados, obrigado pelo link! Acho que o texto do Sérgio de Carvalho é mesmo bom e tem coisas ali que se aplicam bem não só ao Zé Celso como a muitos de nós. Realmente vale a leitura e a reflexão. Destaco alguns pontos:
1) "Reclama-se da ausência de um justo reconhecimento."
2) "Não se tolera uma posição divergente."
3) O "temor de um dia também estar por fora" é justamente a motivação "Maria-vai-com-as-outras" de muitos, não?
4) "Infelizmente, pouco se admira Zé Celso pelo seu exemplo concreto de uma incansável atividade, por sua disposição ao trabalho teatral sem paralelo entre nós."
Abraços!
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