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quinta-feira, 6 de março de 2014

BOLETIM INFORMATIVO FÓRUM DE ARTE PÚBLICA Data: 17 de Fevereiro

Quinto encontro do Fórum Carioca, dentro do projeto Arte pública.
O encontro deste dia começou diferente, começou com a clarineta do maestro Noberto, da Banda Rio que nos brindou tocando "Carinhoso" e "Se todos Fossem Iguais a Você". Enquanto o Maestro Noberto tocava, Ligia Veiga declamou o texto de João do Rio "Eu Amo A Rua".
Com este Sarau, Amir abriu este encontro relembrando todo o processo do movimento Arte Publica.
Desde a primeira vez que unidos fomos protestar contra a Operação Choque de Ordem, quando os artistas e grupos de rua estavam sendo proibidos pela guarda municipal de exercer seu ofício, passando pela votação pela Lei do artista de rua, da autoria do Vereador Reimont, (parlamentar da cidade que desde o inicio do movimento tem nos acompanhado e que só conseguiu elaborar a lei por ter nos escutado), lei está que aprovada na assembléia da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e que foi vetada pelo Prefeito. Narrou que após este fato de novo os artistas foram para a rua o que fez com que o prefeito ligasse e marcasse um encontro na Lapa, na casa do Tá Na Rua, onde, após ver a quantidade de artistas e ouvir seus comentários, prometeu (e cumpriu) que mandaria sua bancada ir contra o seu veto, assegurando a aprovação em segunda instância da Lei 5429, lei que protegesse o artista de rua e garante que possa trabalhar em paz, sem ser incomodado pela guarda municipal. Também falou do edital que o prefeito queria propor para a arte de rua e que a resposta dada foi não, que o que queríamos era política pública para as artes públicas, devido á diversidade de manifestações artísticas que existem nos espaços abertos. Com isso nasceu o projeto arte pública, com o objetivo dos artistas se apresentarem e também de registrar quantos artistas públicos atuam na cidade.
Depois de dois nãos de espera, o projeto saiu, mas pela iniciativa e vontade dos grupos de rua que há mais de 15 anos atuam nas praças cariocas e pela importância que este projeto tem como ponto inicial para que políticas públicas para as artes públicas sejam pensadas e trabalhadas. Foi dito que não e nunca foi prioridade doa secretária Municipal de Cultura que mais burocratizou do que ajudou para sua  concretização imediata, tanto é que em vez do nome inicial, Arte Pública, Uma política em construção, o projeto foi intitulado I Festival Carioca de Arte Pública, por sugestão da secretária que alegou que seria melhor para viabilizar o evento. Assim foi dito. Mais o projeto saiu finalmente e até 15 de abril, artistas e grupos de rua poderão se apresentar e se cadastra em seis praças da cidade, cada uma delas tendo como curadoria grupos que há muito tem trabalho reconhecido na cidade: Largo do machado tendo como curador o Grupo Off Sina; Praça da Harmonia, tendo como curador a Cia Mystérios e Novidades; Saens Pena e agora a Xavier de Brito, na Tijuca, pelo Boa Praça; e Lapa e Praça Tiradentes aos cuidados do grupo Tá Na Rua.
Amir perguntou quem tinha vindo neste dia pela primeira vez: quatro se apresentaram. E perguntou quem já tinha vindo nos outros encontros. Mais de vinte e cinco mãos levantaram. Então ele falou que isso era bom, que eles já estavam envenenados pelo bom veneno, pelo veneno da dignidade e da auto estima, pelo veneno de acreditar na sua arte. Veneno da liberdade, a favor da sua produção artística.

O mercado tende a tirar a sua possibilidade de consumir sua própria produtividade, a colocar rótulos e preços. A democracia que existe pé a de impor sua vontade sobre o outro, a mesma democracia que permite um país com seus dogmas invadir o outro em seu nome.
Amir complementa: " Tenho mais de 50 anos de teatro, vinte nos espaços fechados e 35 de rua. Sai das salas fechadas para o espaço aberto em busca da minha salvação, da minha liberdade... No inicio eram somente três ou quatro grupos de teatro de rua que se tinha noticia... hoje somos mais de 300, assim como muitos são os artistas que atuam nas ruas... Hoje estou aqui, vendo vocês e sabendo mais do que eu sabia... Quando comecei a pensar no conceito Arte Pública, não sabia aonde chegaria... Hoje vejo vocês e vejo a idéia Arte Pública se consolidar... Não podemos vender o que temo de melhor para dar... Mas não podemos dar o que temos de melhor para vender..."

Foi mencionado que o fórum era o espaço nas segundas feiras, não só dentro do projeto, para poder discutir e dialogar sobre arte pública e sobre a função e influência que o artista tem na cidade. É o local para levantar dúvidas, questionamentos e trocar informações e vivências. O movimento é para tirar o tatu da toca. Deixar de ser sozinho e fazer o tatu ir párea a rua e conhecer outros tatus.
Foi também ressaltado que existe uma utopia: "que a cidade alimente sua arte... que o artista possa viver do seu chapéu, reconhecido pela população... Na Bolívia pulula arte pública pelas praças e ruas... É o que queremos... Enquanto não é assim, queremos políticas públicas para as artes públicas."
Warley Bach, artista que faz estátua viva deu um depoimento sobre o que aconteceu com ele na rua: "Eu estava trabalhando como estátua, quando fui abordado por um guarda municipal que disse que eu não podia estar ali. Eu então mostrei a lei e ele disse que a lei não valia nada. Cheguei a dizer para ele, como não valia nada? Como uma lei não vale nada? Eu falei para ele que não ia sair... Discuti com ele... precisamos ser mais duros com ele..."
André, do Boa Praça: " Posso falar sobre isso? Não adianta ri para o confronto... Vou contar a experiência que tivemos na Saens Pena... Uma guarda municipal encrencou com o Manoel do Pet que estava pondo seu material... Falou que ele tinha que sair dali ou então ela iria confiscar o material dele...  Ele estava ali por adesão ao projeto... Fomos até ela, conversamos e chamamos os colegas dela que atuam naquela área... Ela estava assim decidida e dizendo que não conhecia a lei nem sabia do evento... Pois bem, o próprio colega dela de farda chegou a dizer para ela que tinha que manter a calma, pois a guarda tinha acabado de voltar de férias... Não estou falando para defender, mas para entender... Não adianta nenhum confronto direto, pois que acaba perdendo é você. Na Saens pena a guarda municipal, os barraqueiros já nos conhecem... Devido a problemas anteriores, nos dialogamos com eles ... Precisa de dialogo..."
Richard, do grupo Off Sina: "Para ajudar, o melhor a fazer é pegar o nome do guarda e levar para a regional administrativa e informar o que aconteceu e levar a lei junto. Não é costume nosso fazer valer as leis... Estamos aprendendo... "
Maria Helena, do Tá Na Rua: "Onde foi, como foi, a gente vai em cima... A gente não pode esquecer que todos são filhotes de uma ditadura... O pensamento deles é esse... Não estamos aqui para proteger, mas fazer entender que existe uma outra forma de ver a cidade... A gente tem uma atividade que dialoga com o poder público, com o cidadão e com a cidade... Não podem,os esquecer isso..."
Amir: "Não adianta querer garantia só com a lei, somente a lei não garante nada e sim o exercício da nossa cidadania... Ai sim a lei pega... e é copiada... Já tem lei em Niterói, São Paulo, Teresópolis... Não é fácil, não é tarefa fácil... Por isso queremos estamos cadastrando os artistas de rua, você começa a ver quanta gente está fazendo arte na rua... é muita pela frente, não dá para contar com o ovo da galinha... o evento vai até o dia 15 de Abril e nós pretendemos terminar na Cinelândia, com a presença de todos os artistas e com a presença dos representantes públicos para que saibam quem nós somos e o que nos almejamos...  Esperamos contar com um bom material para ser entregue e dizer que o que queremos não é somente uma lei... A lei é um caminho, m,as queremos políticas públicas para a nossa arte pública... no Tá Na Rua falamos o seguinte: Os militares fazem a Pátria, os Políticos o País e os Artistas Fazem a Nação."
Vitor Pordeus, Teatro de Dyo Nise: Nós somos o espelho, espelho da natureza, o espelho da vida... espelho que melhora e não piora... Somos o espelho dessa cidade e conhecemos e entendemos as contendas dessa cidade... Somos possibilidade..."

Como sempre lembro, não é uma ata, mas um relato a partir das minhas anotações e que está aberto para correções, acréscimos e observações.
Termino este Boletim com o poema e declamado pelo arauto dos oráculos da rua, Esperando Leitor:



Árvore da Aflição

Folhas avançam, repousam nos
sulcos da escrita
Carregando a flor da aflição
Antes que a palavra se torne
Ferrugem
A multiplicar na casa
Da escravidão
Folhas andantes avançam
Perfilam a terra do
Estranhamento.
Bosque após bosque
Carregam a flor da
Aflição

Herculano Dias

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