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sábado, 8 de março de 2014

CURIOSIDADES DO EVENTO ARTE PÚBLICA UMA POLÍTICA EM CONSTRUÇÃO

O Guarda e o Chapéu

Aconteceu no Largo do machado e quem me contou mais essa história foi o Palhaço Café Pequeno.

Dia bonito na praça... A roda tá quente... Muita gente em volta vendo as peripécias do palhaço. Enquanto ele tira a moça para dançar com um balão em forma de coração, seu coração começa a pulsar mais forte... Será pela moça? Todo palhaço é um eterno apaixonado infiel, onde toda moça cabe no seu coração, afinal o palhaço não é ladrão de mulher?

O coração batia forte mesmo, mas não pela moça bonita que dançava com ele, mas por causa da visão que teve ao olhar em torno da roda. Á distancia, fardado, olhos escuros, lá estava ele... Um policial militar. Parado. Estático. Observando cada movimento seu.

Ora, qual ser humano não se sente incomodado por alguém que fixa seu olhar nele? Imagine quando esse alguém é justamente da polícia?

Como narra Stanilaw Ponte Preta no seu conto: "A polícia. Está mesma não ia compreender nunca o sonho do mendigo rei." E um artista de rua? Será que ele pensa diferente ou a mesma coisa?

O palhaço continua seu espetáculo. Pega quatro cadeiras e convida quatro rapazes da platéia para o grande número da levitação. O povo rir do embaraço dos rapazes, mas eles também tão se divertindo. Sentam... Um deita no colo do outro e o palhaço vai tirando uma por uma das cadeiras.

Enquanto faz o número, dá uma espiadinha por cima do ombro para ver onde o policial está... Susto... Ele marcha em direção da roda. As mãos começam a suar frio e o rosto a suar pintura... Que será que ele quer?  O que será que o guarda está pensando?

Com aqueles óculos escuros não dá para ver a reação dos olhos dele. Todo mundo sabe que os olhos são a porta da alma e dos sentimentos... Mentira... Os olhos são fofoqueiros e entregam seus usuários. Como o palhaço gostaria que os olhos do policial pudessem falar com ele, fornecer uma pista do seu pensamento.

São quatro coisas que não se misturam: água e óleo e artista e polícia.

O número continua. Foram duas cadeiras, lá vai á terceira... 1,2,3... O palhaço tira a terceira cadeira e os rapazes não caem... Falta á última. Tensão na platéia... Tensão no palhaço, pois quando ele olha, quem já se encontra na beira da roda? O guarda militar.

O número não pode parar. Lá vai, preparar para a última cadeira... Será que os quatro vão cair? Rufam os tambores... RRRRRUUUUUUMMMMMMM... 1.... RRRRUUUUUMMMMM... 2... RRRRUUUUMMMM... 3 e... Tira a ultima cadeira e... TAMMM soam os pratos... Os quatro não caíram, estão levitando... O povo aplaude e a música explode... Taratatata... Taratatatatataaaa...

O palhaço se entrega para a emoção do público! Antes do número final, tira o seu chapéu da cabeça e começa a girar pela roda. Uma velhinha coloca uma nota. Uma menina uma moeda... Uma criança, uma moeda, outra criança, outra moeda... O pai com o bebê no colo coloca mais uma nota e... O palhaço dá de cara com o policial... E agora?

Calmamente o guarda bota a mão no bolso. "Santa periquita, vou sair daqui algemado, preso, fichado..." – pensa o nobre circense.

O palhaço, já se sentindo prisioneiro estica o chapéu em direção ao oficial que lentamente tira a mão do bolso e dá... Deposita uma nota no chapéu do palhaço...

"Gostei muito!" – elogia o guarda. E calmamente com chegou, vai se afastando. Ele não tirou os óculos escuros do rosto, mas nem precisava. O policial chegou marchando e quando foi embora, saiu caminhando.


Herculano Dias

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