Por Herculano Dias
Sexto encontro do fórum dentro do Evento Arte Pública, Uma política em Construção.
Amir abriu o encontro deste dia lembrando o histórico do movimento:
- desde o período em que os artistas e grupos de rua foram se manifestar contra a "Operação Choque de Ordem", idealizada pela Secretária de Ordem Pública, que estava coibindo os artistas de trabalhar, utilizando a guarda municipal;
- sobre o veto do Prefeito á lei 5429, protegendo e permitindo o artista trabalhar sem ser importunado pelos gestores da ordem pública;
- a vinda do prefeito na casa do Tá Na Rua, para se encontrar com os artistas públicos (audiência está que foi marcada pelo próprio prefeito Eduardo Paes), onde ele prometeu (e cumpriu) pedir para derrubarem seu veto e assim a lei ser sancionada;
- neste mesmo encontro, o senhor prefeito falou propôs a prefeitura organizar um edital para os artistas e grupos de rua; a resposta para o prefeito foi um "não". Amir, que foi o mediador neste encontro, falou que o que "necessitávamos era de Políticas Públicas para as Artes Públicas". Então foi pedido pelo Senhor Eduardo Paes que fosse elaborado um projeto para as Artes Públicas;
- o projeto foi feito e depois de longa espera ele está sendo realizado. O projeto tem também o objetivo de cadastrar os artistas de rua para saber quem e quanto nós somos e apresentar estes documentos par o poder público e para verem quem somos nós, porque eles não nos conhecem, assim como nós não nos conhecemos ainda. Cada encontro do Fórum Carioca de Arte Pública conhecemos mais artista públicos.
Desde então há dois anos e meio, pelo menos, o Fórum tem encontrado para nos mobilizar. A participação no Fórum é importante para aprendermos mais sobre nós mesmos e sobre nosso ofício e importância. Escolhemos os espaços públicos como locais de trabalho, muitas vezes imponderados pelas leis, pela ordem. A nossa liberdade é limitada. Temos uma lei, escrita pelo vereador Reimont, que desde o início do movimento tem nos acompanhado, que garante o que está escrito na Constituição sobre a liberdade de expressão, mas não é uma garantia.
Os músicos da Banda Tree então relataram o que ocorreu com eles em Botafogo, quando estavam tocando na calçada, perto do Shopping. A Guarda Municipal tentou impedi-los de tocar, primeiro afirmando que não podiam estar ali, que era proibido. A banda então mostrou a lei, depois afirmaram que eles estavam pedindo dinheiro para população, o que eles argumentaram que não – "A gente não estava pedindo, nem vendendo, estávamos oferecendo, quem quisesse contribuir, é livre..." A guarda chegou a insinuar que estavam atrapalhando o shopping, o que não era fato real, pois segundo o pessoal do Tree - "Os seguranças do Shopping pedem pra gente baixar o som e alguns gostam até do som da gente..."
Dito isto, foi conversado que ainda há muita resistência e desconhecimento por parte não só da guarda municipal como das subprefeituras. Suelyemma, assessora do vereador Reimont, informou que através do gabinete, foi passado um ofício para o Inspetor Matielle, que é o Chefe Geral da Guarda Municipal da cidade, narrando o incidente e pedindo esclarecimento do fato. Vimos a necessidade de uma reunião entre os oficiais que respondem pela guarda Municipal como também com os administradores regionais. Também foi informado que o chefe da guarda centro, Inspetor Cristo, ficou sabendo do ocorrido, lamentou o fato e que tem como proposta uma atividade dentro da corporação da guarda com os artistas públicos e com os soldados da guarda. Achamos uma proposta bem interessante, ainda mais que mudar um pensamento e uma cultura social, tão impregnada como é, demanda tempo. Não é de uma hora para outra.
Com esse fato que ocorreu com a Banda Tree, novas informações apareceram referentes ao uso da lei e que foram trazidas pela Aquimi, artesã, conhecida como a menina do arroz (escreve seu nome em um grão de arroz) e que trabalha no Largo da Carioca há 16 anos. Segundo suas palavras, os evangélicos estão usando a lei para pregar e usar o espaço público. A lei é para a arte e não para pregar uma religião.
Infelizmente, como foi comentado, casos como esses vão aparecer e nós devemos estar muito bem preparados para que tais coisas não aconteçam. Por isso temos que lutar, porque senão a lei não pega e é mal utilizada por quem não tem nada a ver conosco.
Neste momento, chegou o vereador Reimont, acompanhado do deputado estadual Robson Leite. Foi relatado tudo o que havia sido discutido até aquele momento para os parlamentares.
Reimont pediu a palavra e falou da importância para a sociedade quando encontros como o Fórum acontecem para falar sobre os problemas da cidade – "Não importa onde estou, sou cidadão deste lugar... Quando existe um problema, a gente se junta para encontrar uma solução mais próxima da nossa realidade... A arte pública dá frutos para a cidade. A guarda não sabe, mas reconhece... tem uma resistência que precisa ser quebrada, como aqui é dito, a arte organiza o mundo e utilizando palavras do Amir, a cidade é para quem vive nela e não para quem vive dela"
Aproveitando, Robson Leite fortaleceu as palavras ditas pelo vereador e acrescentou: "Essa lei do artista de rua, copiamos para ser estadual... coisas boas devem que ser copiadas. Devem ser incentivadas... Não preciso ir a Páris para entender sobre arte de rua, já vejo aqui na Lapa..."
Amir complementou - "Não somos delinquentes, somos a possibilidade de organizar a cidade. Sozinhos, estamos isolados, juntos, podemos mudar o mundo, sem estarmos submetidos aos meios do mercado e do meio de comunicação. Somos, de todos os cidadãos, os mais livres de todos... Mais organizados maior é a nossa força, maior a nossa capacidade numa cidade onde o cidadão está abeira de um ataque de nervos..."
Glaucy - "Trabalho com o Grupo Off Sina que faz a curadoria do Largo do Machado... uma coisa que aprendemos é saber como partilhar um espaço...sem competição... sem entrar no espaço do outro e respeitar o entorno deste espaço, sem ferir também o direito do cidadão que nos assiste ou que mora no local... É preciso também que entendamos isso... Essa cidade precisa de arte... tem lugares que precisam muito e não tem, não precisamos repetir nenhum modelo de concentração cultural, tem espaço para todos..."
Richard, do grupo Off Sina - "A rua nos ensina, é nossa universidade. É normal que algumas coisas aconteçam. Por onde passamos a praça nunca mais será a mesma e nem nós seremos os mesmos... A lei é apenas um instrumento... ter um pensamento maior... compartilhamento, ocupação e políticas públicas para a Arte pública..."
Finalizamos o encontro esta segunda falando que o Bloco 0800 dos artistas de rua saíra no dia 05 de março, quarta feira de cinzas. Combinamos de chamar todos os artistas de rua, pois o bloco faz parte do Projeto Arte Pública.
Combinamos que a concentração será na Casa do Tá Na rua, a partir das 14h. Será o esquenta antes de por o bloco na rua e somente sair quando sentirmos que é a hora.
Foi apresentado o Samba escrito para o bloco. Os músicos presentes se ofereceram para musicar a letra:
SAMBA 0800
Composição: Herculano Dias
A rua tem Mystérios e Novidades
Tá Na Rua é minha graça
Meu ofício é minha Off Sina
Eu quero é fazer uma boa praça
Sou público, sou ancestral
Já dancei nas ruas da Grécia
Joguei malabares no Nepal
Fiz teatro para o Rei da Pérsia
Cantei para a Rainha Inglesa
Fiz Maria Antonieta perder a cabeça
De praça em praça passo o chapéu
Eu sou da estrada, meu teto é o céu
Gasto minha sola de sapato
Sou artista de rua de fato
No Brasil desde mil e quinhentos
Minha arte é 0800
Sou palhaço, sou circense,
Sou dançarino, sou ator
Sou pintor, sou desenhista,
Sou músico, sou cantor
Minha arte é única
Sou Arte Pública
Não sabemos se vai dar tempo para musicar, mas vamos em frente.
Terminando o encontro do Fórum, Nando Rodrigues, do grupo Transfiguração pela poesia, declamou um poema:
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
Em seu louvor eis de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure"
Vinicius de Moraes
Termino este boletim desejando um bom carnaval, lembrando que no dia 03 de Março não teremos encontro do Fórum devido á festa do rei Momo e que não é uma ata de reunião, mas um informativo escrito a partir das minhas anotações. Está aberto para acréscimos, correções e observações.
Como no encontro finalizo com a música do poeta Paulinho da Viola:
"Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar,
É ele quem me carrega como nem fosse levar..."
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