O Violão Rosa da Dona
Raimunda
Estava tudo pronto para começar mais
um dia de evento público no Largo do Machado. Os artistas se preparando,
colocando seus chapéus, seus narizes vermelhos, verificando seus instrumentos.
Richard Riguetti, do Off Sina, dava atenção aos últimos detalhes, quando uma
pessoazinha de 1,45 de altura, chamou sua atenção.
Era uma senhora,com um sorriso
agradável e vivo, carregando um violão rosa. Ela foi se “achegando”, como se
diz no idioma do samaritano e perguntando:
- Moço, que
tá acontecendo aqui?
- É o Evento
de Arte Pública, onde os artistas de rua são convidados para se apresentarem e
mostrarem o seu trabalho.
- Eu posso
participar também? Também sou artista!
- Claro! –
foi rápida a resposta. A simpatia dela era contagiante. – Como a senhora se
chama?
- Raimunda,
muito prazer!
Dona
Raimunda foi a primeira atração da tarde. Foi começar a cantar que a roda foi
formando e aumentando.
Dona
Raimunda cantava composições próprias ao som do seu violão rosa. O violão dela
era desafinado, uma corda não falava com a outra, mas Dona Raimunda tocava
verdadeiramente e a melodia fluía por entre os acordes da sua voz. Uma melodia
humilde e poderosa que atraia a atenção do povo. Que se divertia com sua
espontaneidade.
O centro do
seu instrumento não era um orifício circular, não, era em forma de coração. Ela
não tocava com os dedos, tocava com o coração. Seu coração.
Ela segurou
a roda até o final e quando encerrou sua apresentação, o coro de palmas e vivas
era intenso.
Dona
Raimunda estava feliz, tão feliz, que empestiou de felicidade todo mundo
presente ali na praça. Quem a assistiu, esqueceu do transito, do lixo, das
obras em volta. Saiu sanada.
O Violão de
Dona Raimunda podia estar desafinado, mas ela com o coração quente, alma aberta
e afinada, muito afinada, com o universo.
Herculano Dias
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